2008 Será Diferente...
Tem um lado meu que é pessimista em relação a 2008.
Os mesmos restos azedos de uma sociedade-verminose.
Os mesmos trapos mijados arrastando a poeira que acoberta as ruas.
Os mesmos discípulos da estrábica injustiça social.
Os mesmos dramas que imaginamos superados há décadas atrás.
Os mesmos choros esganados no corpo que sustenta a dor.
Os mesmos descontroles promíscuos.
Os mesmos engasgos no esôfago irritado.
Os mesmos trombos entupidos em vasos vermelho-vinho.
Os mesmos porres disfarçados de última vez.
Os mesmos descontroles que juramos – pelas nossas mães – controlar.
Os mesmos suores ofegantes no susto da madrugada.
Os mesmos eixos desequilibrados em promessas bambas.
Os mesmos “sim” enterrados em covardes “não”.
Os mesmos intolerantes em grupos que disfarçam a solidão.
Os mesmos pães esmigalhados sobre a toalha desbotada.
Os mesmos sintomas maquiados em pó branco.
Os mesmos olhos esbugalhados suplicando o recheio dos famintos.
Os mesmos contratos de venda de honra.
Os mesmos carrapatos agarrados em cadelas prenhas.
Os mesmos trocos desequilibrados em centavos sem valor.
Os mesmos reclames defendidos em beleza óssea.
Os mesmos sabichões de umbigos longínquos.
Os mesmos capitais de um crescimento vegetativo.
Os mesmos casamentos com prazos de validade perecíveis.
Os mesmos insetos aglomerados na doçura esparramada.
Os mesmos pareceres de isenção de culpa.
Os mesmos modismos ridicularizados em gerações que nascem.
Os mesmos pontos finais idolatrados em exclamações aleijadas.
Os mesmos relógios de luxo sodomizados na aceitação marginal.
Os mesmos homens-fêmeas debruçados em janelas importadas.
Os mesmos três pontinhos que nada explicam...
Se eu tenho um lado otimista em relação a 2008? Claro que sim!
Mas no momento ele está ocupado rezando.