Ana Cabrita
Ana Cabrita
Ana do Espírito Santo Ribeiro era uma menina muito pobre que aceitava doações. Os doadores tinham que ser homens, de qualquer tipo desde que a satisfizessem.
O homem que a despetalou era um menino. Falei despetalou, pois ela era ainda uma criança, tinha doze anos e o rapaz apenas onze. Creio que ela estuprou o garoto que ainda imaginava que o órgão genital masculino servisse apenas para fazer xixi.
A atividade sexual é conhecida em toda a cidade. Morava em Me Toques, interior do Rio Quase Grande do Oeste. Aos dezoito anos conheceu o primeiro trouxa de sua vida. Era um vendedor ambulante de chapéus. Um mês depois de casados, não se sabe por que cargas d’água, seu chapéu de uso diário apareceu com dois furos na frente.
Toda a cidade sabia que o motivo era ecológico, os furos serviam para que os galhos pegassem sol e água e não morressem.
No Brasil toda vulgívaga apaixona-se e Ana, cujo apelido era Cabrita, não fugiu à regra. O apelido ela recebeu devido a quantidade de homens que passaram por sua cama e, para não confundir os nomes na hora agá, ela berrava Zé é é é, com toda a força. Zé virou Bé, Bé virou Cabrita.
Não demorou muito se separou do vendedor de chapéus. Encontrou José Garibaldo. Diz que foi paixão. Diz que foi o único (não tão único) e verdadeiro amor. Garibaldo era um gentleman. Bonito, manequim, atlético, deixava as mulheres babando. Nos arrasta-pés da vida, arrastava as mulheres. Mas um dia parou. Parou na Ana Cabrita. E com ela teve cinco filhos. Todos diferentes um do outro. Um loiro, um moreno, um mulato e dois que eram a cara de Garibaldo, que jamais duvidou da paternidade.
À medida que a idade avançava, Ana Cabrita cada vez pulava menos, embora continuasse berrando. Já velhinha, dizem que era possível escutar os Zé é é é desde a casa vizinha. Mas os berros só aconteciam quando o Garibaldo saía para jogar canastra.
Quem os conheceu mais de perto garante que os dois – Ana e Garibaldo – viveram assim, felizes, por muitos e muitos berros.
Aroldo Arão de Medeiros
01/04/2006