Do abandono à posse de quem somos.
Todo mundo se solidariza às frustrações dos artistas, mas raramente alguém se solidariza às dores e dissabores de pessoas comuns. Por vezes um vizinho, um parente ou alguém bem próximo está passando por um processo muito doloroso e ninguém se compadece ou estende as mãos. O assunto mais falado do momento: o término de uma cantora, em seu 6°mês de gestação, com seu ex companheiro, um famoso do futebol que a traiu. Não desmerecendo a dor que ela está vivenciando e nem querendo "competir" com a mesma, eu também fui um dia abandonada pelo pai do meu primeiro filho, ainda no terceiro mês de gestação... e o "amor", que não sei se um dia existiu, se dissolveu instantaneamente. Sem remorso algum ele foi morar com amigos e curtir a vida, não me dava nenhum tipo de assistência e ficava com outras mulheres, pouco se importava se isso iria me abalar emocionalmente- deveria ter ao menos se importado com o filho que estava sendo gerado em meio às tristezas e ressentimentos da mãe; contanto, em fase ultra sensível de uma mulher, nem eu mesma poupei meu bebê do turbilhão de emoções que oscilavam dentro de mim, ainda que indiretamente. No entanto, não quero passar-me por vítima e nem reviver esses tristes episódios, porque mais à frente pude descobrir o maior amor do mundo e a real felicidade: A maternidade. Somos os únicos culpados por nossas escolhas e tomadas de decisões. Ainda que seja difícil lidar com os fatos, elucidar aos poucos, traz conforto e alívio, dá a real dimensão dos nossos atos e consequências, de quebra, nos faz enxergar aquele que nos "frustrou " como verdadeiramente sempre foi: pela ótica da realidade e não das nossas expectativas. Chegar a esse entendimento não é fácil; pelo menos pra mim não foi... levou anos de "inimizade" comigo mesma em detrimento da minha "fuga"... caindo em papo furado e em braços errados. Entretanto, uma hora o amor próprio toma nossas dores e também a frente de tudo. Evidencia verdades cruéis que tentamos não lidar, expõe as mentiras e arranca máscaras. Então teremos de encarar a "medusa " ... que pode estar atrás do espelho... ainda que nos tornemos "pedras "... porém, das pedras se erguem grandes construções, edificações bem estruturadas e firmes. Sob teto da maturidade, a edificação pode até ser abalada por algum impacto (imprevisto ou adversidades), mas não desaba mais. A vida tem seu jeito peculiar de colocar tudo no eixo. O planeta terra é milimetricamente calculado, para que não venha colapsar. O criador calculou cada uma das suas obras, projetou minuciosamente cada detalhe... sendo nós parte vital delas, colocou dentro de nós as ferramentas necessárias para enfrentar quaisquer batalhas. Com a fé alicerçada e sob o entendimento do autoconhecimento, podemos confrontar cada desafio e superar cada fracasso. Temos de ser bons aliados de nós mesmos, de modo que possamos conduzir nossas vidas com responsabilidade e buscar a melhor direção... jamais delegar essa tarefa em mãos alheias. Se não formos alheios conosco, o que o outro faz ou deixa de fazer em relação a nós, não determinará a nossa trajetória. Porque gravitamos em nossa própria órbita, temos um sol que se levanta e ilumina qualquer escuridão dentro de nós... ainda que "perdidos" , a gente entra em rota novamente e tudo que um dia foi não será mais, nem nós... evoluímos e vencemos nossas guerras... aquilo que parecia nos devorar, exponenciou nossa força, ampliou nossa visão e expôs a nossa coragem... outrora "adormecida" por conta do medo, dos anseios e preocupações... enfim nos tornamos guerreiros entre as fronteiras do coração e da razão. Se a tristeza surge feito uma tsunami, damos vazão para sua passagem... confiantes que "depois da tempestade vem (e ressurge) a bonança." Estamos em paz nova(mente), com uma nova mente.