Peixes
Uma vez minha mãe comprou um peixinho para meu irmão. Era bonitinho, vermelho, com nadadeiras bufantes. Parecia que tudo ia bem. Até que um dia o achamos caído no tapete da sala, morto. Tinha pulado para fora do aquário. Talvez o peixinho estivesse infeliz. Vai ver queria crescer e não podia. Meu irmão o enterrou numa caixinha de fósforos.
Peixinhos-dourados podem crescer bastante se forem colocados em aquários grandes. Isso aprendi no filme Big Fish, do Tim Burton. O protagonista, Edward Bloom, é o filho preferido de uma cidade pequena do Alabama. O rapaz se destaca em tudo que faz: campeão nos esportes, aluno brilhante, popular entre as garotas. Sua ambição o impele a deixar o lar e sair pelo mundo. Muitas pessoas são como Edward Bloom: precisam sair por aí para correr atrás dos seus sonhos. São peixes grandes, que precisam de aquários grandes.
E existem pessoas que são o contrário: são felizes no lugar em que estão. A rotina dá a elas segurança. Sentindo-se seguras, elas criam: escrevem, desenham, pintam, esculpem. Não sentem necessidade de monetizar, vender, nem mesmo de divulgar o que criam. O ato de criar em si já é suficiente.
A ficção também tem um personagem assim: Paterson, do filme homônimo de Jim Jarmusch. Paterson dirige um ônibus, todo dia pela mesma rota, vai ao mesmo bar toda noite, tem conversas repetitivas sempre com as mesmas pessoas. E escreve poemas. Escrever o faz feliz. No último ato do filme, porém, perde seu caderno e sua motivação para continuar escrevendo. Fica melancólico. Não sabe mais o que fazer com seu tempo. Vira um peixe fora d'água.
No fim Paterson acaba voltando a escrever. Seu próximo poema inclui uma pergunta: “ou você prefere ser um peixe?”. Esse verso ele tirou da música “Swinging On a Star”. A mensagem da canção é: você pode fazer coisas incríveis ou se acomodar e viver uma vida chata. A escolha é sua.
“O cérebro é mais amplo que o céu”, escreveu Emily Dickinson. Todos temos universos inteiros dentro de nossas cabeças, e somos livres para nos balançar como quisermos nas estrelas que esses universos abrigam.