Amassando o pão
Amassando o pão:
É! Eu já fiz de tudo. De vendedor de amendoim a empresário de prostitutas. Minha infância foi difícil. Quando não estava vendendo amendoim, estava engraxando sapatos ou vendendo pastéis.
Aos quinze anos fugi de casa e fui para São Paulo, sem conhecer ninguém na cidade grande. Dormi na rua, passei fome e procurei muito por trabalho. Até que um bom homem resolveu me empregar como padeiro, mesmo sem que eu conhecesse a profissão.
Acho que foi muita sorte, pois além de não passar fome tinha uma cama para dormir e dinheiro no final do mês. O meu patrão era casado com uma morena de tirar o fôlego. Ela começou a me dar mole e logo eu estava em seus braços. Foram dois anos de muito trabalho, muito amor e algum dinheiro que eu suava para economizar. Quando soube que o dono da padaria havia descoberto, fugi e voltei para casa.
Passei a fazer bicos, vendendo desde roupas íntimas até enciclopédias. Aos dezoito anos tirei carteira de motorista profissional e fui trabalhar como taxista para um primo meu. O ponto era próximo à zona do meretrício: imaginem a quantidade de apuros que passei. Só para citar alguns: fui assaltado duas vezes. Numa eu passei o dinheiro da féria. Na outra, fiquei doido, acelerei o carro com toda a velocidade e ainda ameacei o ladrão: se tu me matares, também morres! Eu não tirei o pé do acelerador até ele desistir.
Fiz de tudo. Dei até surra em travesti que não quis pagar a corrida. Aliás, quase tudo, só não virei homossexual e não fui guia de cego. Quando o movimento estava fraco, eu ia a outras boates e, se acaso encontrava uma moça bonita, tentava convencer a sair comigo, enganando que a levaria à praia, na capital.
Já agenciei meninas para boates, já roubei mulher de boate para vender a outro proxeneta. Fiz isso algumas vezes. E, com a maior cara de pau, voltava à boate de onde havia retirado a rapariga e dizia que ela havia fugido da minha casa de praia.
Hoje estou bem de vida, tenho uma boa profissão, mulher, dois filhos. Eu, que não tinha onde morar, hoje tenho até casa com piscina.
E pensar que eu comecei amassando o pão. Mas não comi o pão que o diabo amassou, eu amassava o pão para o diabo comer.
Aroldo Arão de Medeiros
08/04/2006