Entre Sem Bater - Crimes contra a humanidade

Mandela disse:

"... o colapso da boa consciência e da ausência de responsabilidade e escrutínio público levaram a crimes contra a humanidade e violações do direito internacional ..." (1)

Pode parecer contraditório aos olhos da maioria dos povos, e principalmente em contraposição aos desejos dos déspotas de plantão. Nelson Mandela amargou anos em uma prisão e lutou pelos ideais e anseios de seu povo e da humanidade. O regime do apartheid contou com uma arma poderosa, a educação lenta e gradual. A partir da educação para a sociedade, é possível subir ao menos um degrau da consciência de uma nação. Mandela deveria ser exemplo para todos os brasileiros, sem querer importar ídolos, mas como referência. Desse modo, poderíamos valorizar brasileiros que diziam a mesma coisa, muito antes de Mandela, como Paulo Freire, Darcy Ribeiro e outros.

HUMANIDADE

Em primeiro lugar, a humanidade e cada uma das culturas ou sociedade estão em vertigem(2). Desse modo, o conjunto de eventos, perversidades e outras ações sobre os indefesos, provoca um desequilíbrio que parece não ter retorno.

A temática "Crimes contra a Humanidade", deste texto, originou-se em título homônimo de um episódio sobre a 2a Grande Guerra(*).

Ser humanista(3) consiste, atualmente, numa tarefa hercúlea e repleta de ingratidões. Chegamos ao ponto de ver negros negacionistas ou pior, apoiando e lutando por teorias nazistas, comprovadamente cruéis. Se este tipo de humanidade é natural para as pessoas, estamos no fim dos tempos, só faltou o meteoro. Surpreendentemente, se nos declaramos humanista logo recebemos ataques de todas as naturezas, principalmente de conservadores.

E assim caminha a humanidade, de ações e reações, sempre com algum motivo corporativista ou sem nenhuma justificativa. Qualquer coisa serve para corroborar a opinião e o desejo de uma sociedade dominar outra, por qualquer motivo. Em outras palavras, a humanidade está à mercê da competição, e as oligarquias colocam os pobres para lutarem entre si. A manipulação de massas, notadamente crescente após a explosão das redes sociais, recrudesceu a polarização da aldeia.

CRIMES CONTRA A HUMANIDADE

Na série homônima, depoimentos dos nazistas em Nuremberg assustam, sobretudo pela repetição das declarações que vemos hoje em dia. Por exemplo, se tomarmos a questão da guerra entre Israel (nem todos os judeus concordam com ela) e os Palestino, a coisa fica complexa.

Como é que pode descendentes dos judeus que foram vítimas do holocausto fazer o mesmo com os palestinos?

As declarações dos líderes e autoridades israelenses e o apoio de estados-nações como Estados Unidos é assustadoramente odioso. Como se não bastasse, a omissão de nações que deveriam interromper o genocídio é ultrajante para a humanidade. Enfim, quase 70 anos depois do genocídio, parece que a humanidade não evoluiu nenhum milímetro, pelo contrário, retrocedeu.

O avanço recente do que convencionou-se chamar de extrema-direita parece, ao contrário do que dizem os otimistas, não ter fim. Governos que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU parecem desejar a volta da Guerra Fria. A humanidade que, a princípio, parecia se recuperar e que teria a ajuda da tecnologia, não está recebendo nenhum benefício. Somente grupos que detém privilégios e não querem perdê-los, estão comandando a política, a religião e os destinos da humanidade.

COLAPSO

O desastroso equívoco(4) a que se refere o professor Eduardo Gontijo é aqui e agora. E, desta maneira, a ideia de Mandela confirma que nossa sociedade repete muitas coisas anteriores que mostraram sua inadequação.  Este colapso está acontecendo o tempo todo, em todo o planeta, desde as tribos africanas até pseudodemocracias como no Brasil.

A deterioração da boa consciência chegou ao ponto de, no Brasil, dizerem que é a postura de "gente de bem". Certamente, estes aqui no Brasil tem seus equivalentes em outras sociedades e culturas.

Os relatos do jornalista William Shirer, que viveu dentro dos países sob domínio dos nazistas durante a guerra, são surpreendentes. Ouvir as declarações de Himmler e Jodl durante o julgamento de Nuremberg e não associar ao que ocorre na Palestina é desumano. Ver como a mídia trata a questão atual e como tratou durante a 2a Grande Guerra é cruel, mesmo com o avanço das comunicações.

Podemos dizer que mesmo com a ONU, seus organismos e as organizações não-governamentais, a humanidade retrocede a passos largos.

O colapso da boa consciência, a ausência de responsabilidade e a falta de escrutínio público-midiático são aspectos críticos extremos. Desse modo, quando sob negligência criminosa, resultam em graves consequências para a humanidade. À luz dos avanços tecnológicos, essas falhas acentuam-se, fazendo com que a sociedade retroceda em vez de evoluir.

BOA CONSCIÊNCIA

É alarmante confundir a boa consciência com adjetivações como "gente de bem", em um mundo onde a tecnologia avança rapidamente. A boa consciência deveria guiar as ações humanas com base em valores éticos e morais. Contudo, ela se perde na busca incessante por inovação, aceitação, e o progresso do clickbait. As plataformas de redes sociais, por exemplo, comprovam uma capacidade notável de amplificar desinformação, discursos de ódio e manipulação. Desse modo, colocam em um segundo plano ou terceiro plano a responsabilidade ética.

Em vez de usar a tecnologia para promover a verdade e a justiça, muitos atores aproveitam-se dessas ferramentas para ganhos pessoais. E, como se não bastasse, utilizam de artimanhas para dividendos político-eleitorais, sem se preocupar com as consequências para o tecido social.

RESPONSABILIDADE

A ausência de responsabilidade é outra questão crucial que se torna ainda mais problemática com a tecnologia. As grandes corporações de tecnologia, que têm um impacto imenso na vida cotidiana de bilhões de pessoas, operam sem prestar contas de suas ações. Empresas como Facebook, Google e Amazon recebem críticas e processos por práticas desleais, violações de privacidade e exploração de dados.

No entanto, a falta de uma regulamentação eficaz e de mecanismos robustos de responsabilização permite que elas prosperem nas suas práticas. Assim sendo, contribuem para um ambiente onde os usuários vejam a responsabilidade como uma ideia distante.

ESCRUTÍNIO PÍBLICO-MIDIÁTICO

O escrutínio público-midiático, ou melhor, a falta dele, agrava ainda mais a situação. Em uma era onde a mídia digital domina, o papel de vigilância da imprensa tradicional inexiste ou é uma verdadeira falácia. Com o crescimento exponencial das fake news e da desinformação, a grande massa sofre de desorientação, sem saber em quem confiar.

A mídia deveria funcionar como um guardião da verdade ou utilizando, a princípio, da ética jornalística. Portanto, deveriam investigar e responsabilizar aqueles em posições de poder que mente e fornecer ao público informações precisas e imparciais.

Entretanto, a crescente polarização e a influência de interesses corporativos na mídia minam essa função crucial. Desta forma, torna-se normal e comum vermos abusos e injustiças passarem ao largo dos trend topics.

TECNOLOGIAS E NORMALIDADES

Assim sendo, ao invés de usar a tecnologia para avançar, a humanidade está regredindo. As ferramentas que deveriam nos capacitar a resolver problemas complexos em utilização em atividades egoístas e destrutivas. A tecnologia, em vez de ser um catalisador para o progresso, torna-se um mecanismo para a perpetuação de injustiças e segregação. As consequências são crimes contra a humanidade e violações de direitos humanos em todo o planeta.

Em suma, para reverter esse retrocesso, é fundamental restabelecer a boa consciência e exigir responsabilidade dos donatários do poder sobre os homens. Outrossim, dar nova forma e outros conteúdos ao escrutínio público-midiático, sobretudo nas redes sociais. Somente através de uma abordagem ética e responsável podemos garantir que a tecnologia seja um bem comum. Em outras palavras, que promova a verdadeira evolução da humanidade em direção a um futuro diferente do que se avizinha.

"Por séculos o homem acreditou em Adão e Eva, serpente que fala e numa maçã que condenou a humanidade. Dá para acreditar? - Filósofo Anônimo.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) . A série de nome "Hitler e o Nazismo" é um documentário produzido pelo canal de streaming Netflix. Aborda o "Julgamento de Nuremberg" em poucos episódios. Um deles "Crimes contra a Humanidade" é aterrorizante, especialmente por vermos a história se repetir atualmente.

(1) "Entre Sem Bater - Nélson Mandela - Crimes contra a humanidade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/07/15/entre-sem-bater-nelson-mandela-crimes-contra-a-humanidade/

(2) "Entre Sem Bater - Paulo Freire - Sociedade em Vertigem" em em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/07/12/entre-sem-bater-paulo-freire-sociedade-em-vertigem/

(3) "Entre Sem Bater - Madonna - Humanista" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/05/03/entre-sem-bater-madonna-humanista/

(4) "Entre Sem Bater Eduardo Dias Gontijo - Desastroso Equívoco" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/04/02/entre-sem-bater-eduardo-dias-gontijo-desastroso-equivoco/