O temporal

O céu parecia querer desabar sobre nossas cabeças!

Ameaçava com tal magnitude que até assustava os menos medrados!

Estava no período cíclico, de fortes temporais; águas de março; dádiva que persiste por anos a fio, desde o principiar dos tempos; mas nunca que foi assim assustosa, ao menos pelo que se sabe.

Era um temporal sem medidas: raios, trovões..., e uma gotas que semelhavam cântaros!

De tão temerosas, pareciam pedras de gelo; pois que a dureza dos pingos bem mostrava o quanto de força eles tinham; também sua frieza, era que nem gelo caindo.

..., e as águas corriam, desembestadas pelas ruas de puro negro asfalto, e arrastavam o que tinha pela frente. E descia ladeira abaixo, desengonçadas e inexoráveis, as coisas todas que se acumulavam nas beiradas dos passeios e mesmo o que estavam por sobre eles: os passeios sendo de baixa elevação.

A cidade tremia ao som dos trovões: vidros das janelas, placas de outdoor, letreiros de lojas e mesmo os guarda-chuvas e as sombrinhas que teimavam enfrentar a ventania.

Vento que semelhava coisa de filme: grandes ventiladores direcionando colunas de ar, para parecer ventania; a vida imitando a arte do cinema; o cinema copiado em seus parâmetros “catástrofe”, pela natureza. Quem está imitando quem?

Catástrofe sim! Pois que a avenida se tornou um rio..., que de correnteza forte arrastava e jogava carros contra carros – os que estacionaram nos beirais das calçadas.

A noite era puro breu! Alumiado só quando vinha um raio coriscando e por alguns segundos de luz mostrava o que estava escondido nos bueiros: ratos e cobra e bichos outros..., que entontecidos se afogavam ou se apoiavam em algo que flutuasse.

Um aguaceiro que perdurou por horas