Tardes de domingo
É muito viva em minha memória a lembrança de nossas tardes de domingo na casa de minha avó paterna.
Os filhos podiam ter qualquer outro compromisso, mas todo domingo almoçavam juntos. Havia uma grande varanda nos fundos, onde se batia muito papo e se reunia para preparar a refeição em família.
Minha avó era uma mulher de poucas palavras. Viúva muito cedo, criou seus nove filhos com muito rigor e foi sempre muito respeitada e amada. O mais curioso era o seu nome. Ela tinha um nome lindo. Ela se chamava Manoela, mas não gostava. Ficou conhecida como Anésia. Teve gente que só soube seu nome verdadeiro no dia de seu sepultamento.
Com o desencarne da minha avó, as coisas mudaram... pouco a pouco cada um passou a buscar por novos lugares, novas conexões e os almoços de domingo ficaram apenas em nossa memória.
Esta semana eu revi um trecho de uma palestra do Cortella na qual ele fala sobre a despamonhalização da vida. De acordo com ele, “Nós paramos de fazer pamonha e passamos a comprá-la pronta em nome de algo que é prático. (...) E paramos de fazer pamonha. Os homens saíam de manhã, iam buscar milho na roça, arrancavam a palha. As crianças tiravam o cabelinho que ficava no meio. As mulheres tinham o trabalho mais complicado, que era ralar o milho e costurar um saquinho de palha”.
A finalidade de fazer pamonha não era comer pamonha, mas ficar junto. As crianças e jovens aprendiam que para fazer pamonha era preciso tempo, trabalho, convivência, divisão de tarefas.
Os almoços na casa da minha avó não eram diferentes, não tinha pamonha, mas tinha a galinha caipira, o macarrão especial e um tanto de coisa boa. Ainda tinha o biscoito de lanche da tarde...nada comprado pronto...tudo preparado ali, junto, em família.
Hoje me bateu uma saudade...
Algumas tias se ressentem...tentam ainda manter esses laços que o tempo atual não favorece mais. Vivemos o tempo do instantâneo, do imediato...Talvez por isso essa nova geração seja menos tolerante aos fluxos da vida, né? É tudo para ontem e não vivencia o processo. No fundo, não se trata de lugar, de coisas..., mas de quem está com a gente na jornada. É a convivência com o outro que nos alimenta e nos permite ir além.
Muita Paz!
Bom dia!
Roberta.