Desabafo de um psiquiatra em crise
Desabafo de um psiquiatra em crise
Cardoso I.
Sempre que podia, embebedava-me por inteiro a fim de esquecer o amargo sabor de um dia fatidico, Ora porque o duro oficio requeria bons ouvidos e mente Saudável, ou porque para um psiquiatra consumido por ruídos de seus pacientes, manter-se são também era ato de amor próprio.
Esqueci de dizer que, quando possível, embebedava-me de vinho, do sabor do vinho juntamente com as lastimas dos meus pacientes. Também poderá, que no fim do dia, esvairava-se pelo ralo da pia tanto o resto do vinho como também os problemas alheios.
Me recompondo por inteiro para que no dia seguinte o ato se repita novamente.
E num desses atos improváveis, deparei-me sentado no mais absoluto dos silencios de minha própria solidão.
E justo seria se a subjetividade da vida é um ato, tal ato deveria ser vivido na mais sublime das introspecção. É que para alguem que esculta demais, esvaziar no fim do dia, pensamentos e emoções, ainda que ressentido pela dor do outro, também é uma subjetividade necessária.
Mas esse momento sublime perdura somente nos fins de expedientes, pois como dizia mamãe: nao pensar é coisa de rico!
E foi assim, nisso de engavetar os problemas alheios, como quem coleciona cicatrizes, deparei-me então pensando em quem guardaria os meus!Em quem os curaria, ate porque de vinho em vinho criaria dois grandes problemas: um o vicio compulsório por bebidas e o outro o adormecimento dos meus próprios medos, lançados ao ralo da pia, mas nunca tratados.
E foi ai que me recompus a postura, levantei e fui pra terapia.
Afnal psiquiatras também são pessoas sensíveis. E todo ser humano precisa de terapia.
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