TACACÁ

Eu estava numa festa em Belém do Pará no dia em que vi e ousei comer tacacá pela primeira vez. Logo adiante, objetivando não ser estranheza para ninguém, eu explico por que usei o verbo ousar. A princípio a surpresa da coisa desconhecido me arrebatou, porque naquele momento a aparência do alimento vendido num carrinho por uma simpática senhora mostrou-se-me desagradável.

No entanto fui em frente e deixei de lado o receio de experimentar uma comida diferente e nunca antes vista ( sou do Nordeste, tinha sido nomeado para um cargo bancário na capital e estava lá há pouco tempo. O ano era 1971 ). Havia um bom motivo para eu não recusar, rsrsrs.

Lá pelas tantas em meio a balada resolvi tomar ar puro. Outras pessoas tiveram a mesma ideia, inclusive a bela garota que ganhou minha total atenção. Ela estava tomando tacacá, vejam só, 😄maravilhosa oportunidade de obter dois coelhos com uma só cajadada. Sim, usei o tacacá como desculpa para chegar até ela😉.

Ladino e sorrateiro, aproximei-me, pedi desculpas pelo atrevimento de ir até ela e perguntei que comida ou bebida era aquela tão alegremente tomada por ela. Sim era o tal do tacacá. A garota logo ficou na defesa, desconfiada. Por isso, lançando um olhar atravessado, talvez até aborrecida com meu xaveco meio troncho, respondeu-me toda altiva " quer bem dizer que não é de Belém e não conhece tacacá? " Repliquei sorrindo que realmente não era de lá e nunca tinha visto comida semelhante.

Nesse momento outra jovem, certamente uma amiga, a chamou pelo nome, Diva, ela se virou e já ia saindo de minha presença quando eu disse " Diva é um nome bonito ". Seu olhar para mim denunciava perplexidade, porque então ficou patente que realmente eu não era paraense. Tudo por causa do sotaque ao falar Diva, visto que a pronúncia deles acrescenta um chiadozinho depois da letra D, isto é, eles dizem " Dchiva "

A partir dessa ótima diferença regional entre nós começamos a conversar, tomei o famoso tacacá, não gostei nada da goma quente empapada, mas saboreei o tucupi e os camarões com gosto, conquistei e fiquei com a garota a balada toda. Foi uma noite memorável! Como visto, a bebida ou comida típica do Norte serviu de ponte para um repentino engate romântico.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 12/07/2024
Reeditado em 16/07/2024
Código do texto: T8105708
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