O índio e a natureza
O índio e a natureza
Folheando um jornal local, de pequena tiragem, me deparei com uma carta escrita pelo cacique indígena Seatle ao Presidente dos Estados Unidos Franklin Pierce.
A missiva fora redigida em 1854 e para meu espanto se aplica muito bem nos dias de hoje à defesa do meio ambiente.
É uma lição inesgotável de amor ao ecossistema e à vida, que deve permanecer na consciência de milhões de pessoas em todas as partes do mundo.
É o hino de todos aqueles que amam a natureza e tudo o que nela vive.
Vou repassar algumas frases para mostrar a dimensão filosófica desse índio:
- “Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? O homem vive comprando terra e tendo direitos sobre pedaços do céu. Cada pedaço desta terra é sagrado. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e na experiência”.
O “batuqueiro” Martinho falaria da natureza com uma pitada de malícia que lhe é peculiar e diria:
- “Em você dependurado qual roupa no quarador”.
O cacique controlava seus índios e tentava controlar a ganância do homem branco. Ele dizia:
- “Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem – todos pertencem à mesma família.”
Já o autor da frase “Eu sou da guerra pela paz” diria que este índio “está tão alegre como a solidão”.
O filho da selva escreveu muito mais. Aconselhou os americanos ao declarar:
- “Vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão”.
Reclamou ainda do barulho da cidade grande:
- “Não há lugar quieto nas cidades. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debater dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite?”
O “grande escritor”, bebericando uma cerveja, diria:
- “Está tão certo como a incerteza”.
O pele vermelha em tom mais romântico disse que, “prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.”
Da natureza o “avô de Raoni”, chefe da “tribo Ferreira”, diria que hoje ela “está tão pura como a impureza”.
Sobre o convívio entre o homem e a natureza, o paciente índio nos diz:
- “O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito.
Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo. Todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro, porque o ar é precioso para o homem”.
Para encerrar essa prosa o “vô de Dandara” comentaria sobre a natureza nos dias de hoje:
- “Está tão rica como a pobreza”.
Aroldo Arão de Medeiros
7/10/2006