Maysa
O conselheiro burguês Juvenal Barbosa Duarte morreu às três da tarde, vítima de tuberculose. Os recém-órfãos Maysa e Eduardo souberam da morte de seu pai três horas após seu enterro, isso porque tia Guilhermina não quis revelar o acontecido por medo de suas reações. Eduardo quando soube pouco se importou, Maysa foi ao seu túmulo chorar a sua perca. Henrique, filho do coronel Barros, era o noivo de Maysa, que seu pai tinha arranjado em troca de apoio político do coronel.
Mexendo nos pertences de seu pai, Maysa, encontrou um livrete castigado pelo tempo e pelas traças que o cercavam para se alimentar de suas suculentas páginas. Pegou tirou uma película de poeira que o cobria e abriu sorrateiramente. Lia-se na primeira página:
“Pertence a Juvenal Barbosa Duarte.”, Maysa fechou-o, tia Guilhermina havia chegado e estava subindo as escadas.
Guilhermina abraçou-a e falou sobre como estava os parentes e percebeu um leve suspiro de Maysa. As duas ficaram em silêncio, até que Guilhermina contou a Maysa que seu irmão havia ficado com a fortuna da família e havia pedido a ela que a levasse para sua casa, pois Eduardo não a queria dentro de sua casa. Maysa deixou escorregar entre seu rosto de pele alva uma lágrima. Ficou triste e nervosa consigo por ter acreditado que seu irmão a queria bem. Pegou sua mala e foi com tia Guilhermina, viu Eduardo na sala de jogos e ele fingiu não vê-la.
Depois desse dia a última notícia que teve de seu irmão era que ele tinha se suicidado devido a crise do café. Tia Guilhermina estava muito doente, o médico disse que estava com o mal do século. Maysa havia se tornado uma mulher feita, seus sedosos cabelos morenos escuros brilhavam como a luz do sol, seus olhos azuis se misturavam em meio a cor do céu mais límpido e estarrecedor que se podia imaginar. Todos os homens da vila a flertavam e faziam sonetos melosos com seu lírico nome. Passados alguns dias Tia Guilhermina faleceu, deixando Maysa sozinha.
No dia seguinte, um homem baixo, calvo e de alto volume corpóreo chegou e bateu na porta. Maysa se levantou limpou as lágrimas de seu rosto e o convidou para entrar. Entrou e botou uma maleta de couro no chão, e pegou um papel de cor marrom. Ele começou a ler, Maysa percebeu que se tratava do requerimento da casa de sua tia devido as cobranças de uma dívidas adquiridas por ela quando Maysa veio morar junto com ela.O prazo era de um dia para a saída de Maysa. Despediu do senhor e fechou a porta com um ar triste e melancólico, subiu as escadas e pegou debaixo da cama sua mala, começou a depositar os seus pertences e preparou-se para o velório de sua tia. Toda a cidade estava presente na capela, o padre José estava preocupado com o estado de Maysa, que foi alvo dos comentários maldosos da cidade. Terminado o velório voltou para sua ultima noite na casa que foi criada com amor e carinho pela sua tia.
Foi até o quarto de sua tia para arrumar suas coisas, em meio a uns papéis antigos achou um diário que com esforço identificou ser aquele que segurava em suas mãos quando seu irmão a expulsou de casa, sem saber o motivo. Começou a folheá-lo e leu durante a noite inteira, enquanto avançava de parágrafo e de página mais lágrimas escorriam pelo seu rosto. Enfim descobrira a verdade: era filha de sua tia Guilhermina com seu pai. Sua mãe, irmã de Guilhermina fora traída e envenenada por seu pai que queria manter segredo para não provocar um escândalo. Seu irmão, mais tarde escutou uma conversa entre seu pai e sua tia e ficou com raiva de Maysa, que não sabia de nada.
De manhã arrumou suas malas e saiu de sua casa, com a promessa de não olhar para trás. Seguia rumo a estação de trem e com o dinheiro que tinha guardado, comprou uma passagem para o Rio de Janeiro em busca de uma nova vida. Cabine 36. Junto com Maysa viajava um jovem chamado Marcelo, que ficou encantado com a beleza da sua companheira de cabine. Às seis daquela tarde chegar a estação central do Rio de Janeiro, pegou um endereço de uma amiga de sua mãe e perguntou a belo rapaz que resolveu acompanhá-la até aquele destino. Chegado lá o rapaz apresentou a uma mulher alta e maquiada, de nome Laura. Marcelo sorriu cinicamente e saiu. Laura pegou em suas mãos e a levou para dentro da casa antiga, ignorava as perguntas de Maysa. Por fim disse que sua mala ficaria em seu poder e a partir daquele momento trabalharia para ela, mostrou uma roupa com decotes para usar durante a noite e trancou a porta. Durante a tarde Maysa chorou e se arrependeu de ir atrás de uma parenta que si quer conheceu.
Sete da noite Laura abriu a porta e pegou Maysa pelo braço e guiou até um salão altamente luxuoso onde se encontravam homens ricos, bem vestidos e outras moças com feições tristes. Descobrira naquela hora que havia se tornado uma prostituta. Tentou se desvencilhar das mãos de Laura, mas não obteve sucesso.
Um cliente a chamou atenção. Se parecia com Henrique, de quem era comprometido quando ainda vivia com seu pai, o conselheiro. Laura a levou para uma espécie de palco e falou em alto e bom som que conseguira uma jóia de altíssima estirpe. Henrique percebeu que se tratava de Maysa e começado o leilão foi dando lances altos para concretizara compra da jovem. Por sete contos, Maysa fora vendida para Henrique que a levou de carruagem até um hotel. Maysa aos prantos, retirou a roupa e se entregou de corpo e alma para Henrique que se rendeu a beleza de Maysa.
Na manhã seguinte Henrique contou que sua antiga casa fora leiloada para cobrir as dívidas de seu irmão e que estava casado com uma jovem que morava na antiga casa de seu irmão. Maysa se levantou e percebeu que tinha errado ao se entregar a Henrique, e que agora o fizera desonrado por trair sua esposa. Henrique a convidara para volta com ele para sua cidade natal para que juntos reconstruíssem uma vida nova. Maysa não aceitou o convite e decidiu viver por lá, junto com Laura.
A última vez que Henrique ouviu falar de Maysa, ela havia se tornado dona do cabaré mais famoso do Rio de Janeiro.