Vi um Anjo!

A palavra “anjo” tem certas implicações no contextual do nosso tedioso vértice místico. É um ponto de inflexão ao nosso cientificismo, quando queremos provar a verdadeira faceta do “anjismo”.

Tal como outras muitas palavras, a exemplo de “amor”, “anjo” define um vasto campo de alegações que não traduz a verdadeira acepção do vocábulo. Amplitude no conceitual, por vezes feita por poetas e escritores e difundidores de analogias que pouco sentido tem nas suas falas. Temos por exemplo o âmbito sociopolítico que deturpa as acepções pelo prazer mórbido de confundir ou desinformar.

Quando falam em “anjo caído” estão falando no capeta. Isso mostra a piratagem no revolvo da palavra “Anjo”. Isso define o quão é casual e o que é factual e o que é puro e simples apatifares!

Então, quando é crédulo pensar em anjo..., pensa-se em anjo! Quando é lógico denegar anjo..., nega-se o anjo! Quando carece de fazer uso do anjismo..., quebra-se as regras e a ética e os princípios todos e anjo vira “presépio de vitrine”.

Concordo que Anjo seja ilusório. Que Anjo seja algo que apenas está arraigado no misticismo de muitos. Que pode bem ser uma alegoria, um embuste, uma piada de gosto duvidoso ou algo análogo.

Baseando-me nessas premissas, o que vi bem podia ser Anjo ou ser outra coisa qualquer: um fantasma, uma alucinação, uma desinformada e cética figura. Não quer dizer que vi uma imagem misticamente realisticamente Santa.

Como definir o porquê de tantos volteios que dei, em torno do sentido “Anjo”, apenas para expor o sentido falho do que quero explicitar?

Simples! Esse bolodório todo me faz parecer sóbrio, erudito, conciso e convicto. No mais de tudo, me faz parecer menos louco do que o que realmente sou. É justo que as palavras definam o que somos!

Esse bolodório todo me parecer como quem “bebe da fonte da santidade?”

É falso. Inteiramente falso. Acredito em Santos, mas olha que não tenho obsessão compulsiva por Santos! Apenas respeito e muito as crenças místicas sejam ela quais forem.

Vamos aos Poréns!

Se apenas dissesse: “vi um Anjo!” – Chamaria a atenção de alguém?

Ou se dissesse: “vi um Anjo, mas esse Anjo era de procissão!” – Alguém me levaria a sério?

Ou ainda que eu dissesse: “vi um Anjo, mas acho que era só sonho!”

Sejamos realistas.

Um Anjo, na sua forma maciçamente incongruente é contradizente com o real..., com o legítimo..., com o castiço..., com o factual..., seria acatado como impostura! Seria falso-positivo em algumas alegações, entretanto se ajeitaria bem no personagem e seria elegantemente angelical!

E se disse que vi um Anjo em estado bruto seria a deflagração do absurdo em doses cavalares...

..., não só um, mas mil! ..., mais que isso, centena de milhares ou mesmo bilhões ou trilhões..., uma legião! Uma imensa e atopetada legião!

Isso é só uma completa, inteira e grande mentira. Era só para dar um grito de alerta!

Mas voltado à realidade factual do que quero narrar.

Na verdade, vi e o que vi me deixou confuso, mas crédulo e sabedor do que vi. Um evento que bem pode ser julgado efeito de um alucinógeno. Um espargir de sentimentos que não sei explicar, mas verdadeiros e tangíveis.

Era uma noite quente, sem lua e sem lume, onde o breu se espraiava e a deixava assustosa – e olha que não sou frouxo. Mas a noite parecia algo denso, tal qual era o seu negror. Do anegrado surgiu um alumiado confuso! Uma luzinha besta que foi se desvirando em luz maior..., e foi ficando maior..., maior..., maior... E eu, prendido no chão com os grampos do medo, nem conseguia fazer o que minha bexiga tencionava querer fazer.

Embasbacado, fui engolido por inteiro! Foi como que sendo vestindo em uma coruscante luz malandra!

Fui tragado por um buraco de luz! Uma boca de pura luz que manchava o negrume da noite e me abocanhou sem que nem desse tempo de chamar por meus santos de devoção!

Não fui arrastado, não fui empuxado, não fui narcotizado..., apenas, talvez, abduzido! Veio um “branco no quengo” e fui me ter em um nicho de luz!

A luminescência se esvanece e, à minha frente, um Anjo! Um anjo sim! Estatuado num pedestal que parecia um palco minimalista, mas era um pedestal.

E o anjo, estatelado tanto quanto eu atarantado.

Manteve-se à distância e não respondeu o que perguntei, mas tudo pude entender. Era tudo dito por pensamento. Telepatia. E foi uma explicação simplória: “Minha forma biológica foi desconstituída, transportada por um plano dimensional e reconstituída tal como era”. Por isso estava eu, ali fincado e exalando terror.

Quis fazer perguntas, minha fala não se articulava e eu me sentia emudecido, tanto quanto emudecido era aquele Anjo maroto.

Podia não ser Anjo! Mas tinha arroubos de querubim!

No seu emudecido de boca, soprou no meu quengo:

– A humanidade está falida de amor!

Dei por mim, de volta onde antes estava e minha bexiga fez o que tencionava fazer. Pregado no mesmo chão frio que me servia de mirante para o apreceio da negrura da noite, estatelado pela experiência enlouquecedora, pasmado pelo que vi e ouvi e não entendi bulhufas!