SE CONFUNDEM NO MESMO TONEL
Então duas almas com texturas, cheiros e gostos absurdamente diferentes se percebem e ensaiam fundir num mesmo tonel. De início vão conservando suas nuances originais, aquele pedigree de raiz ainda luta para permanecer vigente mas, pouco a pouco, vai diluindo a matiz, chutando longe cada presilha, resina e teor. Nessa fusão um tanto tresloucada, o tilintar que prevalecia começa a apagar seus passos, ecos e rebarbas. Daí as almas mergulham numa simbiose apurada e vão parindo uma nova criatura cujos poros fazem certa menção ao que foram certo dia, mas não passam disso. Assim vão em frente, alguns tropeços visitam, alguns anjos bêbados atazanam, alguns descaminhos atiçam. As almas se perfazem rimadas, uma vira eco da outra, viram uma coisa só. Num belo dia, parte dela emperra seu canto, deixa de pulsar, de existir, de fazer sentido. Então a margem remanescente se dá conta de que ficou órfã da aua essência, perdeu a chancela que a permitia viver. E morre também, desconsolada como nunca se imaginou possível nesse mundo.