Meu temor é pelo verão que virá

 

O pessoal estava hoje reclamando do frio numa comunidade literária do WhatsApp. Como a idade dos reclamantes já é de algumas boas décadas - mais de duas -, deduzi que, naturalmente, com o passar das primaveras, o couro vá ficando mais fino e o nariz maior, daí a pouca resistência para o baixar do termômetro.

 

"Tá muito frio esse ano, não aguento". Pra mim, o frio está igual ao de outros anos, até não fez ainda por aqui uma friaca daquelas, coisa que sei bem como e devido a minha atividade profissional, exercida praticamente sob o tempo. Labutando assim, a gente aprende uns segredos para enfrentar o frio: fora as roupas grossas, adequadas à estação, um coturno ou bota com meias grossas e evitar o vento. Esse último detalhe é fundamental: evite o vento, sempre, pois esse turbina pra baixo a sensação térmica.

 

O fato é que também estou sentindo mais o açoite deste frio canalha, mas não reclamo, pois é a idade que avança, tenho convicção. Recentemente tivemos, até, vários dias quentes, acima dos 20 graus, em pleno junho. Isso faz eu temer, sim, o verão que virá... Como ele será? Assim como está sendo agora no Hemisfério Norte? Assusto-me, eis que do frio a gente se esconde, já do calor extremo... Eu, por exemplo, sofro muito mais no calor, o frio tiro de letra, na manha, ser invernal que sou, nascido na noite mais longa do ano, São João: fogão a lenha, lembrando as fogueiras das festas no dia do Batista.

 

Nesse período de temperaturas baixas, a solidariedade funciona bastante, seja via abrigos ou agasalhos para as vítimas de nossa má distribuição de renda que, despossuídos, estão ao relento, à mercê do tempo. Já o calor, o pessoal tem de se virar buscando um sombrinha que, se não tiver uma brisa refrescante, pouco ajuda. Ar condicionado não é algo que se doe como roupa e cobertores e, algumas vezes, nem o ventilador resolve, pois até o seu vento é quente quando a temperatura é por demais alta.

 

A bem da verdade, temperaturas extremas são boas pra quem tem recursos para enfrentá-las. Logo, pessoalmente, ainda prefiro enfrentar o frio. E como gaúcho não tem escolha quanto a isso, sendo nossas estações bem definidas, o jeito é encarar e pronto: esperar a primavera, a mais bela e aprazível estação, curtindo como dá o inverno e aguardando o verão que virá, torcendo para que ele não seja escaldante.