Despertar do ser

Era um dia comum, aliás, uma noite como qualquer outra. Um fogo me transpassou por inteiro, como se tivesse engolido uma brasa. Correntes de suor começaram a brotar na face. Uma gota salgou meus olhos. Ardeu, como ardeu.

Levantei-me, cambaleando alcancei a porta do banheiro. Uma sensação de desamparo, meu ser estremeceu, meu ente deu sinais de fraqueza. Como a vida é frágil, balbuciei. E a existência efêmera, completou a voz do meu imaginário.

No vaso, trêmulo, indaguei: que foi isso?

Na verdade, nem eu sabia o motivo de ter ido ao banheiro. Por que quando passamos mal, o primeiro lugar que vamos é ao banheiro? Pensando bem, deve ser em razão de ser um lugar de privacidade. E quando estamos mal, queremos, no fundo da alma, que ninguém nos veja. Salvo por algo muito sério, mas muito sério mesmo que não damos conta sozinho. Há quem ache o banheiro o melhor lugar da casa; não leitor, não minto, já ouvi mais de uma pessoa me confessar isso. Que lá, no momento de colocar para fora aquilo que não serve mais, sente-se bem.

Acredito ainda que deve ser também porque é o lugar em que podemos ser nós mesmos: nu, longe de todos os olhares e julgamentos.

E no meu mal-estar, estava lá eu, querendo estar só, trancado em meus pensamentos, fechado em minha privacidade. Mas o tempo foi breve; o mal, mais breve ainda.

Assis Silva
Enviado por Assis Silva em 10/07/2024
Código do texto: T8104122
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