O CRIME QUE SÓ EU VI
Era o fim do mundo, não que o mundo estivesse acabando de verdade, mas o meu mundo ruía como um castelo de cartas, vinha ao chão, sobrou nada sobre nada. Eu estava chocado, com aquela visão, senti náusea, fiquei tonto, minha pressão subiu, a boca secou e eu ali parado com cara de quem viu o Boitatá.
Tentei falar alguma coisa, as palavras não vinham à minha boca, eu tinha um buraco debaixo dos meus pés, fiquei ali, gelado, parado e olhando. Um crime estava sendo cometido!
Tentei de todas as formas me mexer, não consegui. Naquele momento testemunhava um crime que só eu via, e nada podia fazer, se o denunciasse seria chamado de louco, me levariam dali numa camisa de força e me dariam choques na cabeça, certamente. Virei as costas, mas logo voltei os meus olhos para onde eles estavam antes.
Cena lamentável naquele restaurante! Eu me sentia ferido, talvez até insultado, mas não era para tanto, sei disso, afinal estávamos em Tiradentes, coração de Minas Gerais, normal isso acontecer lá. Mas que normal nada! Não para mim.
Tentei sair do restaurante, mas minha mulher e minha irmã se sentaram à mesa com seus pratos prontos e me chamavam para almoçar. Fui, meio trôpego, quase sem vontade de comer, o garçom veio, pedi uma coisa qualquer para beber, cicuta? E não tirava o olho da outra mesa, minha esposa ficou brava, achou que eu estava olhando a mulher, que era bonita, mas não era nela que eu estava interessado, meus olhos cheios de fúria, que ninguém notava, estavam fixos no que ela fazia a olhos vistos naquele recinto. O prato da mulher estava cheio de macarrão com feijão e ela, ainda por cima, cortava o espaguete com faca, não o enrolava no garfo para comer. Isso me deixou louco.