Entre Sem Bater - O Guerreiro

Paulo Coelho disse:

"... o guerreiro trata cada situação como se fosse única., e nunca recorre a fórmulas, receitas e opiniões de outras pessoas .."(1)

Em primeiro lugar, é impossível tentar explicar uma opinião de algumas coisas, uma delas é acerca das minhas ideias sobre Paulo Coelho. Os tempos modernos estão muito confusos e explicar para quem não quer entender, não é muito profícuo. Por exemplo, como explicar "O Alquimista" superar "O Pequeno Príncipe" em vendas no planeta? Não gosto do livro de Saint-Exupéry, mas superá-lo em vendas é fruto de uma diarreia mental grave.

O GUERREIRO

Devemos ter atenção extrema quando usamos algumas palavras e termos atualmente. As redes sociais deturparam tudo, e não foi, na maioria dos casos, para melhor. Por exemplo, a palavra guerreiro, da frase de Paulo Coelho, tem variações e utilizações as mais surreais e inimagináveis.

Estes tempos modernos nos proporcionam ouvir e ler comentaristas esportivos e torcedores chamando de guerreiro até jogadores medíocres. É provável que a carência afetiva ou a falta de educação parental determine esta geração Z e suas manias por mitos e guerreiros. Como se não bastasse, o risco de se usar uma frase ou um pensamento aumenta muito quando existe deficiência cognitiva no básico da leitura.

Em suma, onde falta educação, principalmente a formal, e quando a crise desta educação é projeto de déspotas, não tem solução. Ver circular, nas redes sociais, pastores neopentecostais recomendando que mulheres não façam faculdade, é como um "7 a 1".

ERROS ESTRATÉGICOS

O pensamento de Paulo Coelho deve sempre ir muito além da simples frase-chave de cada texto. Quando as pessoas utilizam uma frase, repetindo-a como opinião de segunda mão(1), a ideia do autor prevalece substancialmente.

O PENSAMENTO

"Os dois piores erros estratégicos que você comente são agir prematuramente e deixar uma oportunidade escapar. Para evitar isso, o guerreiro trata cada situação como se fosse única. E nunca deve recorrer a fórmulas, receitas ou opiniões de outras pessoas." (Paulo Coelho)

As redes sociais, com sua velocidade e abrangência, transformaram, certamente, a maneira como nos comportamos e tomamos decisões. No entanto, essa transformação trouxe consigo dois erros estratégicos que muitas vezes são "normais":

Agir com açodamento, prematuramente ou com poucos e falsos fundamentos, e

Deixar oportunidades escapar por indecisão, falta de fundamentação ou por opinião alheia.

É, desta forma, que o pensamento de Paulo Coelho emerge, mesmo sob a ameaça das pessoas se acharem um guerreiro.

PRESSA ESTÉRIL

O primeiro erro estratégico é agir açodadamente e prematuramente. A utilização do chavão "... a pressa é inimiga da perfeição ..." revela-se aderente ao pensamento de Coelho.

A natureza intrínseca das redes sociais empurra os incautos a responderem rapidamente, seja a um comentário, uma notícia ou uma tendência. Essa pressa resulta em ações e decisões irracionais e típicas de neófitos em todas as editorias.

No ambiente digital, onde a resposta rápida parece ter valor, há uma pressão constante para estar sempre presente ou ser um "insider".

Com toda a certeza, isso pode levar a erros de julgamento, como compartilhar informações falsas ou tomar decisões a partir de tendências com erros. A pseudorracionalidade por trás desse comportamento é a busca por relevância e aceitação imediata de grupos.

As redes sociais recompensam a rapidez com sinais de positivo, compartilhamentos e comentários, criando uma ilusão de sucesso instantâneo. Contudo, a médio e longo prazo, essa pressa prejudica a reputação(2) e leva a consequências negativas, tanto pessoais quanto profissionais.

Um guerreiro nunca se utiliza da pressa para mostrar sua honra e lucidez.

INDECISÃO

Por outro lado, o segundo erro estratégico é deixar as oportunidades escaparem por indecisão. Com a avalanche de informações e opções disponíveis nas redes sociais, é fácil sentir uma sobrecarga. Esse excesso de informações paralisa a capacidade de tomar decisões, resultando em procrastinação e indecisão.

As pessoas passam horas analisando opções, comparando ofertas e buscando a escolha "perfeita", apenas para acabar sem ações racionais. A racionalidade por trás dessa indecisão é o medo de errar ou perder algo melhor. As redes sociais, com suas constantes atualizações e novos conteúdos, criam um senso de urgência e FOMO (medo de perder algo, do inglês). Esse medo pode levar à inação, fazendo com que oportunidades únicas se percam.

Um guerreiro nunca atua com indecisão.

ANTAGONISMO

Ambos os comportamentos, agir precipitadamente e deixar de agir por indecisão, decorrem da dinâmica cruel das redes sociais. A chave para evitar esses erros está em desenvolver uma abordagem com equilíbrio e reflexão. Destarte, é crucial reconhecer a pressão para agir rapidamente e, deliberadamente, desacelerar o processo de tomada de decisão. Desta forma será possível ampliar o tempo para verificação dos fatos e análise das circunstâncias.

Outrossim, é essencial combater a indecisão priorizando e simplificando as escolhas. Um ponto-chave é concentrar-se no que é realmente urgente ou importante, confiando na capacidade de tomar boas decisões. Não existe antagonismo no comportamento de um verdadeiro guerreiro.

Em suma, as redes sociais podem nos levar a comportamentos irracionais, como agir açodadamente e deixar oportunidades escaparem por indecisão. Reconhecer esses padrões e trabalhar para mitigá-los, inquestionavelmente, pavimentará um caminho tranquilo no mundo digital.

Por outro lado, a busca por seguir a maioria, como nas redes sociais, só recrudesce toda a irracionalidade que vivemos atualmente.

IRRACIONALIDADE

Nas redes sociais, a irracionalidade que resulta de erros estratégicos, frequentemente leva a uma série de comportamentos prejudiciais. Esses comportamentos incluem a utilização de chavões, receitas prontas, fórmulas milagrosas e opiniões de segunda mão genéricas. Tais práticas não apenas minam a qualidade das discussões online, mas também perpetuam a desinformação e o pensamento superficial.

O açodamento, ou a pressa em emitir opiniões e compartilhar informações, é um dos principais fatores que contribuem para a disseminação de chavões. Um guerreiro utiliza-se de pensamentos para manter-se fiel às suas virtudes e estado mental.

Diante da valorização da velocidade nas redes e plataformas, muitas pessoas sentem a necessidade de responder rapidamente a eventos ou debates. Desta forma, a maioria age sem refletir ou sequer verificar aquilo que compartilham, mesmo que superficialmente.

Recentemente, numa destas plataformas, protagonizei situação idêntica.

Uma pessoa publicou uma ação específica, atribuindo-a a um certo político. Logo após a publicação, o séquito de lambe-bolas fez seus comentários tecendo elogios ao político. Observei atentamente os comentários e os perfis de quem os publicou. Assim sendo, esperei algumas dúzias de comentários e vi que menos de dez por cento fazia críticas ao conteúdo e à autoria da ação.

Publiquei meu comentário e uma crítica aos apoiadores por difundirem e ficarem ao lado de uma mentira. O autor da ação não é do ramo e não tem ideia da bobagem que fez ao assumir a autoria dos resultados daquela ação. Enfim, tudo é efeito da estupidez coletiva e do açodamento em parecer ignorante.

É como diz um dos chavões das redes sociais:

O cara não pode ver uma vergonha que que logo passar no PIX. (tem que ser ágil e se valer do "tô zoando" para bancar o covarde).

Em suma, quem tem pressa como cru, quente e faz papel de idiota.

DIFUSÃO DA IGNORÂNCIA

Esse impulso para ser o primeiro a opinar sempre carece de profundidade e nuance, sobretudo dos que não conhecem o tema. Chavões e paralogismos repetem-se ad infinitum, criando uma ilusão de consenso e obscurecendo análises críticas e sérias.

A indecisão, por outro lado, leva muitos usuários a buscar conforto em receitas prontas e fórmulas milagrosas. A complexidade dos problemas contemporâneos é avassaladora, e a procura por soluções simplistas e universais é um erro.

Nesse ínterim, a proliferação de conselhos e soluções inexequíveis, nas redes sociais, que prometem resolver questões complexas é uma epidemia. Em outras palavras, receitas prontas e fórmulas milagrosas são atraentes, pois oferecem a falsa sensação de controle e clareza. Entretanto, raramente são eficazes ou aplicáveis a todas as situações e, em especial, ao caso de cada um.

TECNODEPENDÊNCIA

Além disso, a dependência de opiniões de segunda mão genéricas agrava-se tanto pelo açodamento quanto pela indecisão. A tecnodependência ou a dependência das pesquisas superficiais nas redes sociais torna as pessoas mais vulneráveis.

Em vez de desenvolver suas próprias perspectivas, muitos usuários das redes sociais recorrem a opiniões prontas de "autoridades" ou influenciadores. Essas opiniões de segunda mão são frequentemente aplicáveis em outros contextos. E, como se não bastasse, ignoram as nuances e particularidades de cada situação. Esse comportamento não só empobrece o discurso público, mas também perpetua a desinformação. A maioria destas opiniões não possui nenhuma correlação com fatos ou análises rigorosas.

Assim sendo, é possível exemplificar com a quantidade de falecimentos de mulheres que buscam os milagres da beleza artificial. A quantidade de influenciadoras picaretas cresce a cada dia. Por outro lado, a qualidade dos procedimentos e produtos em uso, decresce e não passa por nenhum controle. O resultado está nas páginas policiais como crimes que tornaram-se "normais".

PERVERSIDADE MÁXIMA

Desta forma, os crimes tomam novas formas a cada segundo, e cada vez mais as pessoas priorizando rapidez e falta de cuidado.

Os efeitos perversos desses comportamentos são muitos e a maioria revela a total falta de responsabilidade e humanidade. A utilização de frases-feitas impede a discussão de ideias complexas e fomenta a polarização. Por outro lado, frases de efeito tendem a reproduzir o absolutismo, a discriminação, exclusão e reacionarismo.

As receitas prontas e fórmulas milagrosas alimentam falsas esperanças e levam a desilusões quando essas soluções não funcionam na prática. As opiniões de segunda mão genéricas, por sua vez, contribuem para a formação de bolhas de filtro. Essas pessoas só consomem informações que confirmam suas crenças pré-existentes, levando a uma visão irreal na sociedade.

Portanto, a irracionalidade decorrente de erros estratégicos, como o açodamento e a indecisão, gera efeitos perversos até no mundo real. Para mitigar esses efeitos, é crucial promover uma cultura de reflexão crítica e análise séria de conteúdos responsáveis. Assim sendo, será possível ajudar os usuários a questionarem chavões, desafiarem receitas prontas, desconfiarem de fórmulas milagrosas. Isso, sem dúvida, pode ajudar a elevar o nível do discurso público e promover um ambiente mais saudável e informativo nas redes sociais.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) Alguns atributos que o guerreiro samurai(3) possui, como honra e reputação, estão no limbo de atitudes da maioria das pessoas nas redes sociais.

(1) "Entre Sem Bater - Paulo Coelho - O Guerreiro" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/07/08/entre-sem-bater-paulo-coelho-o-guerreiro/

(2) "Entre Sem Bater - Mark Twain - Segunda Mão" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/02/26/entre-sem-bater-mark-twain-segunda-mao/

(3) "Entre Sem Bater - Abraham Lincoln - Caráter e Reputação" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/11/16/entre-sem-bater-abraham-lincoln-o-carater-e-a-reputacao/

(4) "As 7 Virtudes do Bushido" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/02/15/as-7-virtudes-do-bushido/