Todo dia é 7 a 1

-Vou pegar uma Coca.

Mal havia chegado na cozinha, quando ouvi:

-Goooool da Alemanha…

Voltei. A Alemanha fazia o segundo gol.

Já me consolando, retornei à cozinha para pegar a bebida.

Dois passos mais e… “goooool da Alemanha…”

Voltei à sala achando que era replay. Não era, mas não tinha certeza. Nem eu, nem quem tinha ficado assistindo. A seleção brasileira sofria mais um gol enquanto passava o replay.

Ainda tentando assimilar o que acontecia, fui servir a tal Coca-Cola.

A partir daí, o jogo desandou até o sétimo gol alemão e a “fábrica de memes Brasil” funcionou a todo o vapor.

Expressões como “todo dia é um 7 a 1 diferente” e “esse é o nosso 7 a 1” viralizaram.

Semelhante a isso ocorreu em 2000. O 500º aniversário da chegada dos portugueses ao Brasil -para depois explorar, matar e se adonar das terras encontradas popularizou a expressão medieval “isso são outros 500”.

Ficamos atônitos nos primeiros gols dos alemães. Mas a assimilação foi rápida. É que os brasileiros já tomam 7 a 1 todos os dias, não só da Alemanha nos índices sociais, mas de muitos outros países em muitas outras questões.

Perdemos de goleada em muita coisa. Claro que ganhamos de goleada também. Não é complexo de vira-latas, como alcunhou Nelson Rodrigues. É que os gols contra são tão visíveis e fazem a população sofrer tanto, que acabam tendo mais destaque.

Dez anos depois, já perdemos de 7 a 1 contra a Covid, contra o extremismo e contra as fake news. Vitórias, houve, mas foram apertadas por singelos 1 a 0.

E a Coca? Tomamos, só que já era goleada.