A vida de Macbeth cheia de som e fúria

 

"[A Vida é] uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, e vazia de significado"

(Shakespeare)

 

Na quietude de uma tarde nublada, um jovem ator se debruçava sobre o texto de Macbeth, de Shakespeare, lendo e relendo as palavras da peça, que ressoavam com uma melancolia profunda:

 

"Ela teria morrido, mais cedo ou mais tarde. Morta. Mais tarde haveria um tempo para essa palavra. Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastaram-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco - faz isso por uma hora e, depois, não se ouve mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado."

 

O jovem ator repetia para si mesmo essas palavras, tentando compreender a profundidade dessas palavras, já que sabia que em alguns meses estaria interpretando esse mesmo monólogo em um palco para uma multidão. A sensação de que a existência poderia ser reduzida a "som e fúria, e vazia de significado" inquietava sua jovem mente, ainda repleta de sonhos e esperanças. Apesar de tentar de-co-rar essas frases, era inevitável que tais palavras viessem munidas de um significado profundo que só Shakespeare poderia trazer a uma mente que estava começando no teatro. 

 

Pensar na vida como uma mera sequência de eventos sem propósito parece inicialmente uma visão pessimista, mas, ao olhar mais de perto, há uma certa verdade na ideia de que, muitas vezes, nos prendemos a coisas efêmeras. Passamos dias e noites correndo atrás de vento, e conquistas que, ao fim, podem se revelar vazias. As promoções no trabalho, as posses materiais, os títulos acadêmicos – tudo isso pode desaparecer num instante, deixando-nos com a sensação de vazio que Macbeth tão dolorosamente expressa.

 

A metáfora do "pobre ator" que se pavoneia no palco por uma hora sugere que nossas ações, por mais grandiosas que possam parecer, são transitórias. Cada conquista, cada derrota, cada momento de glória ou desespero é apenas uma pequena parte de uma peça maior, que acabará esquecida pelo tempo. Nossos esforços, por mais que nos consumam, podem não ter o impacto duradouro que desejamos. No grande esquema da história humana, somos apenas breves aparições.

 

Mesmo a noção de que a vida é "uma história contada por um idiota" pode ser vista como um convite à humildade. Não sabemos o que o futuro reserva, e muitas de nossas preocupações e ambições podem parecer insignificantes quando vistas de uma perspectiva maior. Esta percepção pode ser libertadora, permitindo-nos focar no presente e nas pequenas alegrias que a vida oferece, em vez de nos fixarmos em metas grandiosas que podem nunca se concretizar.

 

A "fúria" pode ser vista como a agitação constante em que vivemos, sempre correndo, sempre em busca de algo mais. Esse constante estado de agitação nos impede de apreciar os momentos de calma e contemplação. Acreditamos que a próxima conquista, o próximo marco, nos trará felicidade, mas muitas vezes, isso não acontece. O som e a fúria de nossas vidas modernas podem nos distrair do que realmente importa – relações humanas, a natureza, a paz interior.

 

Porém, talvez a reflexão mais importante seja que, embora a vida possa parecer "vazia de significado" em termos cósmicos, isso não significa que não possamos encontrar ou criar significado em nossas próprias existências. Cada um de nós tem o poder de dar sentido às nossas vidas através de nossas ações, relacionamentos e contribuições para o bem-estar dos outros. O verdadeiro significado pode não estar em grandes feitos, mas nos pequenos gestos de bondade e compreensão que compartilhamos com aqueles ao nosso redor.

 

Enquanto o jovem ator, prestes a interpretar Macbeth, fechava o livro, tentando decorar as palavras de Shakespeare, a tarde se transformava em noite. As palavras de Macbeth continuavam a ecoar em sua mente, mas agora, ele as via sob uma nova luz. Talvez a vida fosse cheia de som e fúria, mas isso não significava que fosse desprovida de significado. Havia beleza na luta, no esforço, nas pequenas vitórias diárias. E, afinal, a vida, por mais breve e tumultuada que fosse, ainda podia ser um caminhar repleto de descobertas e maravilhas.

Prof Eduardo Nagai
Enviado por Prof Eduardo Nagai em 10/07/2024
Reeditado em 10/07/2024
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