Lembrando uma HQ esquecida

 

É uma história em quadrinhos tão esquecida que nem eu lembro o seu nome. Agradeço aos meus pais que mesmo sendo pobres me compraram tantas revistas de quadrinhos que naquele tempo eram muito boas. Como a do Gato Félix, por exemplo, ou a do Popeye.

Bem. Havia uma HQ que juntava três personagens: um gato, um passarinho e um cachorro. Moravam na mesma casa, mas eu acho que os humanos nem apareciam. O gato, me parece vagamente que se chamava Joca, mas não tenho certeza. O cão e o pássaro já não sei dizer mesmo seus nomes.

O argumento básico era esse: o gato tentava comer o passarinho (que vivia numa gaiola mas, se bem lembro, estrava e saía à vontade) e o cachorro batia no gato de cada vez, salvando o passarinho.

Não lembro nem o nome da revista e nem lembro das histórias, somente de uma que de tão engraçada ficou na minha memória em detalhes. Eu era criança, vejam bem, li a hq em fins da década de 50 ou início da de 60.

Também não lembro o nome dessa história em particular mas vamos a ela:

O gato (Joca?) aborrecido por não poder almoçar o passarinho vai passear e, num beco, é chamado por outro gato. Este diz que está vendendo frascos da "tinta invisível". O Joca não acredita mas o outro faz uma demonstração com uma moeda: pincela a mesma com a tal tinta e em seguida mostra a mão espalmada (nessas histórias os bichos são bípedes e têm mãos) e puff!, cadê a moeda?

Convencido, Joca compra um frasco e corre para casa, certo de ter encontrado um meio de furar a vigilância do cachorro (será que esse cachorro não fazia outra coisa a não ser proteger o passarinho?). Chega tão eufórico que chama a atenção do cão 🐕‍🦺 que, intrigado com tanta alegria, segue disfarçadamente o bichano. Fica espantadissimo porque o gato arranja uma grande bacia, senta nela, abre o frasco e o despeja sobre si.

O cachorro fica perplexo. "Mas os gatos detestam água!"

Joca pega uma escada de mão e vai até a sala, onde está a avezinha. O cão esfrega os olhos, não pode crer que o felino vai querer pegar o pássaro 🐦 na sua frente. Mas o gato 🐈 faz exatamente isso: sobe, abre a gaiola e agarra o passarinho, que se esgoela pedindo socorro.

O cachorro então resolve agir e sobe a escada, com cara de poucos amigos, mas o outro faz pouco: "Como você vai poder me bater, se não me vê?"

"É fácil", responde o canideo. "Estou tão acostumado a bater em você que já faço isso de cor e salteado." E segurando o gato pelo pescoço, acertou-lhe um soco sem olhar.

Agora Joca está no chão, meio nocauteado, e o cão pergunta: "Agora diga: por que você pensou que eu não o estava vendo?"

"A tinta invisível!", gemeu o pobre do Joca. Ao que o cachorro respondeu indignado:

"Tinta invisível? Seu estúpido, você sempre foi visível! Só o seu cérebro é que desaparece de vez em quando!"

Desconsolado, Joca mostrou o frasco vazio:

"Mas um gato ali no beco me vendeu esse frasco com a tinta invisível e fez desaparecer uma moeda na minha frente!"

Nessa altura do campeonato o cachorro já estava de bom humor:

"E você caiu nessa peta? Ora, Joca, o que ele fez foi um mero truque com as mãos. O que tinha nesse frasco era água, só isso!"

Afinal compreendendo que caira numa trapaça o Joca saiu de casa furioso e foi até o beco. Ali o gato vigarista, atrás de nova vítima, chamou-o sem o ter reconhecido. Joca se voltou e falou:

"Eu já comprei a tinta invisível, lembra? E como é você está me vendo, se eu estou invisível?"

"Ih, é mesmo! Eu devo ter visto a sua sombra!"

Aí o Joca deu-lhe o maior murro na cara. O gato vigarista caiu no chão e o Joca perguntou:

"E agora, está me vendo?"

"Gozado, só vejo estrelas!"

Satisfeito, Joca foi embora dizendo "Estamos quites!"

Se você sabe que HQ era essa, me informe por favor. Nem pude buscar imagem por não saber mais o nome.

Tenho tanta saudade dessas revistas infantis repletas de humor sadio.

 

Rio de Janeiro, 10 de julho de 2024.