Filho de mamãe
Numa sexta-feira, depois de um expediente que não acabava mais, com muito gosto sentei-me pra ouvir algumas músicas, coisa que faço com frequência. Costumo tirar alguns minutos do dia só pra "dar o play" e me transferir pra outra realidade. Decidi desta vez que seria Charles Aznavour, um grande músico e ator parisiense, com reconhecimento intercontinental dos feitos. Era tudo o que eu queria no momento. A questão é: sexta-feira depois das dez aparecem alguns compromissos inesperados pra um rapaz de dezenove anos, e receber um convite pra um "happy hour" naquela hora era inegável. Resolvi aceitar a proposta na hora!
Cheguei na hora combinada, mas parecia ser engano. Não tinha quase ninguém, estavam lá somente o anfitrião e um rapaz que me pareceu mais novo. Meio sem jeito puxei assunto com o jovem de moletom rosa claro, que estava do outro lado do balcão da cozinha. Minha intuição estava certa, era quatro anos mais novo que eu. No desenrolar da fita notei a timidez e a dificuldade pra falar, acredito ser por conta do aparelho. Pra dar uma descontraída falei sobre livros e música, o que fez com que o rapaz me fizesse muitas perguntas, apesar de não muito leitor, era incisivo. Outros assuntos correram pela conversa, mas fiquei admirado pela disposição dele em me escutar, tanto que deixei até mesmo de prestar atenção no assunto falado por mim. Quando os convidados começaram a chegar, o mesmo lamentou ter que por um fim ao papo.
Me dei conta de que, por mais inconveniente que o momento fosse, despretensiosamente, por quase uma hora, consegui prender a atenção de um adolescente numa festa contando sobre livros biográficos enquanto tocava alguma música indecente. Espero ter a chance de parabenizá-lo.