NADA COMO CRIAR ILUSÕES
O tempo, astucioso, tenta matar-me com o tédio, mas sou mais rápido e o abato escrevendo. As linhas tortas das palavras dão o norte à imaginação, assim as lentas horas deprimentes passam de algozes a aliadas, em sendo assim permaneço alheio à constância temporal. É tudo realmente tão rápido e fascinante, o relógio insiste em ser visto mas é ignorado, o sol rasteja sem minha atenção, igualmente então também desprezo o luar.
Quando dou por mim tudo terminou, derrotei o tempo e nem percebi, logo já vem o momento disso e daquilo, alegra-me não ter notado a preguiça dos vagarosos minutos. Auxiliado pela avidez de brincar com frases, pontos, capítulos e parágrafos, facilmente engulo os dias em vez de ser engolido raivosamente por eles. Alimenta-me as emoções tanto quanto a alma a linda arte da escrita, esse indubitável bálsamo da emoção desnorteada.
Nela encontro a ternura que me falta, os diálogos negados pelos que se afastaram de mim, além de olhares e sorrisos. Os beijos, abraços, os carinhos que descrevo são como se em mim fossem, converso silenciosamente ouvindo as criações de que me valho para vencer a solidão e o tempo. No começo, isso bem outrora, foi difícil, as horas zombavam de mim porque eu sempre sucumbia. Não mais!
Depois, ah, moleza, escrever tomou conta de mim, me fez guerreiro destemido, o tempo beijava e beija a lona. Ganhei
dele, sou vencedor. Redigir, narrar, descrever e contar, armas de que uso, fortaleceram meus passos na jornada cotidiana. Enfrentar a rotina da solidão criativa deixou de ser um fardo, as lágrimas se aliaram a mim e se transformaram em sorrisos, até ele mesmo o famigerado tempo fez amizade comigo. Entregou os pontos, trabalha comigo e para mim. Nada como engendrar e compor ilusões!