Final feliz

Cardoso I.

Olhei no espelho, abismada com o que via.

Do outro lado, havia uma senhora de longos cabelos brancos, olhar cansado e respiração ofegante.

Mas quem seria? Pensei.

Por um breve momento, imaginei que o espelho não era um simples espelho, mas um portal dimensional. Daquele tipo em que as pessoas se conectam em diferentes dimensões.

Ah, lembrei! Ainda estamos em 2024, isso ainda não existe, se quer foi inventado!

Coloquei a mão no rosto e, por ironia a outra também colocou.

Examinava a pele, igual como eu fazia .

Os olhos profundos, pareciam querer gritar. Uma pequena lágrimas escorreu, enquanto os lábios cerrados queriam abrir-se e soltar um daqueles gritos de socorro.

Voltei a lucidez e, entendi tudo.

A outra no espelho, a senhora de cabelos brancos e pele marcada pelo tempo, era eu.

Recuperei-me do tempo de delírio da meia idade, uma daquela fases em que aceitar o que passou é complicado. Voltei a lucidez da vida real e me recompus. Enxuguei o rosto, peguei o melhor batom na gaveta e passei delicadamente pelos lábios.

Ficaram tão vermelhos, iguais quando era adolescente.

Passei um pouco de blush, nada exagerado. A pele novamente ficou impecável.

Arrumei os cabelos, num estilo de coque francês, vesti um vestido modelo Rosê, com um acabamento moderno, me perfumei e sai para a rua em busca do meu final feliz, afinal de contas já era uma mulher madura, não podia me deixar pra depois.