Conversa de barbearia
De repente todo mundo resolveu reclamar do tamanho do meu cabelo e da minha barba, logo eu, que conto nos dedos os pelos capilares que me restam. Aliás, pela primeira vez na vida queimei no sol o cocuruto da cabeça (também conhecido como careca). De agora em diante, praia, caminhada ou qualquer atividade só com protetor solar ou chapéu, uma situação humilhante para quem foi tão cabeludo quanto qualquer metaleiro que se preze.
Mas divago, reclamo e perco o rumo da escrita. O absurdo dessa história é que, apesar de careca, ainda tenho muito cabelo, pessimamente distribuídos, é claro, parece até o Brasil. Enfim, minha mulher delicadamente deu um toque e lá fui eu para o barbeiro:
– Raspa com máquina zero: cabeça, barba e as sobrancelhas!
– Como? O senhor está se sentindo bem?
Meu barbeiro é um senhorzinho gente fina, fala pouquíssimo e treme que nem um ônibus carioca no Aterro. No entanto, trabalha com muita atenção e cuidado. Até hoje, apesar de só aparar a barba com ele, nunca tive a jugular cortada. Seu problema é ser perfeccionista ao extremo, um homem atento aos detalhes.
– Terminou, companheiro?
– Hum, estou vendo que um lado do bigode ficou maior do que o outro. Só mais um pouquinho que já acerto.
A quantidade de cabelo branco que cai em cima do avental é impressionante. Não resisto e faço o comentário mais idiota possível:
– Esse cabelo branco é todo meu?
– Ah, o senhor quer pintar? Acho que um tom caju ficaria ótimo. As moças gostam muito e o senhor ficaria mais jovem.
– Não, não quero pintar nada, nem inventa, branco já está ótimo.
– O senhor é quem sabe. Não quer ler um jornal?
Pois é, nessas horas lembro que, além de quase careca, não enxergo nada sem os óculos. E ainda tem quem acredite que a vida só começa depois dos sessenta. Está bom!
Uma hora e sei lá quantos minutos depois, os trabalhos terminam. A barbearia é ao estilo antigo e a cadeira, depois de algum tempo, te deixa sem posição e se bobear, com câimbras. Mas vale a pena, é um dos poucos lugares do Rio onde o serviço é bom, barato e não preciso falar da Dilma, Botafogo ou o Eduardo Paes. Tenho andado completamente sem paciência com esses três!
Ir ao barbeiro é (ou era, sei lá) uma atividade importante para os homens, nem que seja apenas no casamento ou no enterro. Como nunca consegui aprender como cortar o cabelo ou aparar a barba em casa sem provocar danos irreparáveis nos cabelos que me restam, mantenho a tradição. Até mesmo porque, a opção é ficar com cara de metaleiro ou motoqueiro.
E ainda por cima, da terceira idade.
Carlos Emerson Junior
Novembro de 2013