Samba: A Cadência da Identidade Brasileira

Sou um assíduo ouvinte de rock, mas ao contrário do que muitos pensam, também sou apaixonado por samba, principalmente no tocante as suas críticas sociais. Ele é estilo musical que, após o fim da ditadura militar no Brasil, foi resgatado como importante manifestação cultural. As manifestações populares, outrora proibidas e sufocadas pela censura estatal, começaram a emergir no período de redemocratizacão. No final da adolescência ouvia o jeito engraçado de cantar de Adoniran Barbosa, o lirismo de Cartola e as críticas sociais presentes nas letras de Beth Carvalho (cantora assumidamente de esquerda e que ainda era botafoguense).

Originado das raízes africanas, o samba é uma fusão de diversas manifestações culturais dos ex-escravos: dança do coco, festas de terreiros, pernadas de capoeira e o uso de palmas, pandeiros, pratos e facas para marcar o ritmo. Embora tenha surgido na Bahia no final do século XIX, foi no Rio de Janeiro que esta música floresceu, especialmente nas favelas.

Entretanto, ele enfrentou preconceitos. As elites o consideravam vulgar e degenerado em comparação com estilos musicais “refinados” como a música erudita. Ainda assim, a partir dos anos 1920, o samba ascendeu socialmente. Tornou-se um espaço privilegiado para discutir questões nacionais, como desigualdades sociais, a ineficiência do Estado e a aculturação de hábitos.

As letras dos sambistas refletem sátiras, comentários políticos e críticas sociais. Um exemplo é a música “Vítimas da Sociedade,” de Bezerra da Silva, que denuncia a realidade das favelas cariocas. O estigma de que “todo sujeito que mora na favela é ladrão” é desafiado. O sambista critica a falta de alimentos para os pobres em contraste com o consumismo dos ricos. E, de forma contundente, aponta a impunidade dos crimes de “colarinho branco” cometidos pelos governantes.

O samba transcende o estigma. Ele é um espelho da identidade brasileira, uma voz que ecoa as lutas, as injustiças e a criatividade do povo. Nas suas notas e versos, encontramos o espírito de um país que se expressa, resiste e se reinventa. Na avenida de mais de quinhentos anos de injustiças e trapaças do país, o samba segue a cadência como instrumento de denúncias e forma de resistência do povo.

07.07.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 07/07/2024
Reeditado em 07/07/2024
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