ERA UM GAROTO QUE COMO EU AMAVA OS BEATLES E OS ROLLING STONES – TRÊS
“Aumenta a fonte para ler que essa crônica é Rock n’ Roll!”
Quando morávamos na Vila dos Pinheiros (complexo da maré) em 1992, período em que meus pais passavam os fins de semana em um monte de festa de gente besta (leia capitulo dois), na última vez que fui com eles, minha mãe me obrigou a ir. "Hoje você vai", ela disse. Tragédia anunciada...
Quando cheguei ao local, avistei uma poltrona na sala. Era bem confortável. Sentei e não sai do lugar até a hora de ir embora. Na casa não havia nada para ler. “Quem é que não tem, pelo menos, uma revista em casa?” A festa estava lotada, crianças correndo para todo lado e pisando no meu pé (que ódio). Já tinha tudo planejado, para estragar aquela tirania que não deixava em paz os adolescentes que gostam de ficar reclusos em casa.
Quando a hora do almoço chegou, a dona da residência me chamou para participar da refeição, respondi.
“Não quero almoçar, senhora. Muito obrigado”.
A educação lá em casa vinha em primeiro lugar. Sempre tínhamos que usar as palavras mágicas “por favor”, “obrigado” e “com licença”, aprendi direitinho. Vocês deveriam ver a cara da mulher, a fofoqueira foi lá conversar com minha mãe.
“Telly, por que você quer comer?”
“Não estou com fome, mamãe querida.”
O burburinho se espalhou pela festa, e eu morrendo de fome e raiva. Três da tarde, finalmente partimos. Amém! Dentro do táxi amarelinho do meu pai a coisa ficou punk. Foi a vez do papai me questionar.
“Telly, por que você não quis comer?”
“Não estava com fome, papai querido.”
“Então, quando chegar em casa, não come nada.”
"Tudo bem".
Não seria a primeira vez, minha mãe nos deixava com fome se ficássemos de gracinha durante as refeições, "nada de frescura", "não quero comer isso, não quero comer aquilo". Ela guardava o prato do almoço e dizia, "na hora em que sentir fome, você come". Meu pai estava muito enfurecido dentro do carro.
“Da próxima vez, você não vai com a gente.”
“Não era isso que eu queria desde o começo.”
Tudo foi resolvido na base da dialética.
No dia seguinte, segunda-feira, fui à banca comprar o Jornal dos Esportes, uma das minhas leituras favoritas. O papel cor de rosa com as notícias do Flamengo, que tinha um timaço com Júnior Maestro e companhia, era um pedacinho de felicidade. Precisava ficar imaginando as imagens do jogo antes de assistir ao globo esporte. “Junior cruzou a bola na área, Gaúcho subiu e cabeceou. GOOOOOOOOOOOL... "Do Flamengo, um a zero no placar," (Os garotos são mesmo uns idiotas).
Em casa, minha mãe retomou o assunto da festa anterior, "não sei pra que". Para acabar com a discussão, ela me deu um tapa no ombro e eu encolhi o músculo. A mão dela doeu. Quando meu pai chegou, contou tudo para ele.
“De agora em diante você bate nele, eu não aguento mais...”