ENGOLE O CHORO QUE DOI MENOS.

O frio é intenso, de doer nos ossos e fazer tremer cada músculo do corpo. Pessoas encapuzadas, encolhidas, o nariz vermelho, luvas nas mãos. Cada um encontra uma maneira de se esquentar. Não sou diferente de ninguém, no meu caso, a coisa é um pouco pior, com implantes metálicos na lombar, sinto mais dor do que o normal, o frio é pior no meu caso e de qualquer outra pessoa que também tenha cirurgias parecidas. Estamos no meio da semana, mas, é como se fosse segunda-feira, para mim, estou retornando das férias, trinta e quatro dias em casa, longe dessa loucura que é minha vida profissional, longe desse manicômio que é o meu trabalho. Me permita uma breve explicação.

Faz exatamente um ano que estou trabalhando em uma metalúrgica fora da cidade onde moro, não como funcionário direto da empresa, já fui parte do quadro da empresa no passado, essa é outra história. Pois bem, faço parte dos terceiros, uma empreiteira atuando dentro dela, trabalhamos na área civil, por assim dizer. Antes disso, eu era apenas um simples balconista de açougue. Naquela época eu acreditava que a minha vida estava ruim e necessitava de mudanças, meu Deus! Que arrependimento... Nesse meu desgosto, acabei por entrar nessa terceira, acreditando que seria espetacular, ledo engano. Acontece que, se eu tivesse permanecido lá, no balcão do açougue, considerando as atuais circunstâncias, eu estaria melhor. Também não posso reclamar, tudo foi escolha minha, é como dizem por aí, a escola, seja ela qual for, é inteiramente livre, porém, a colheita, caríssimos amigos, é obrigatória. Digamos que estou colhendo o que eu mesmo plantei. Já derramei lágrimas, reclamei, gritei, enfim, fiz de tudo... De nada adianta, agora é engolir o choro que doi menos, e, se possível, tentar uma rota de fuga, um escape dessa situação. Somente para concluir essa explicação, eu tenho que ficar a semana toda longe de casa, às vezes, duas, e é essa solidão distante que está me enlouquecendo.

Sendo assim, esse retorno em um julho muito frio não está sendo nada agradável. O ambiente de uma terceira não é a pior coisa do mundo, no entanto, também não é o melhor lugar. Talvez seja eu o errado de toda essa história, certamente que a minha personalidade fraca, o meu coração ansioso seja o motivo de toda essa bagunça aqui dentro da minha cabeça. O meu sorriso é falso, assim como a alegria que fingidamente pintei nos lábios e nas palavras. Na verdade, sou uma pessoa incompleta, melancólica e infeliz. Quase ninguém sabe desse meu lado, sempre momento, à beira do abismo. Já trilhei muitas vezes por esse caminho tortuoso, contudo, dessa vez a coisa pegou de jeito. Eu não vejo saída, é apenas o abismo e eu. E só em pensar nisso, que tudo foi escolha minha, escolhas tolas e erradas, que eu poderia ter evitado, me deixa ainda mais transtornado. A minha esposa sempre diz a mesma coisa, " Eu te avisei, você não quis escutar." , Veja só o que dá escolhas erradas. O plantio é livre, agora, já a colheita, essa é obrigatória.