A Experiência Ensinando
Naquela manhã de quinta, a sala de aula estava vazia e silenciosa, uma raridade que eu aproveitava para fechar as notas com calma, era fim de bimestre e os alunos já haviam se dado férias com antecedência. O sol entrava timidamente pelas janelas, criando sombras dançantes no quadro branco. Estava tão concentrado nos meus papéis que quase não percebi quando a porta se abriu.
"Bom dia, jovem!", ouvi uma voz rouca e familiar. Era um dos professores mais antigos da escola, uma lenda viva, prestes a se aposentar depois de décadas de dedicação ao ensino.
"Bom dia, professor!", respondi, um pouco surpreso. "Não esperava ver ninguém por aqui hoje."
Ele sorriu, um sorriso tranquilo que parecia carregar anos de histórias. Sentou-se na cadeira ao meu lado, observando minhas anotações. "Fechando as notas, hein? Ah, lembro-me bem desses tempos."
"Sim, estou tentando organizar tudo antes do fim do semestre", expliquei. "É minha primeira vez fazendo isso sozinho."
O professor assentiu, seus olhos brilhando com um misto de nostalgia e sabedoria. "Lembro-me quando comecei aqui, tantos anos atrás. A escola era diferente, os tempos eram outros. Mas algumas coisas nunca mudam."
Ele começou a contar histórias, e eu me perdi nas palavras dele. "Você sabia que fui aluno aqui? No meu tempo, ali onde é a quadra, era um acampado. Uma vez, enquanto jogávamos, um colega nosso teve um acidente, bateu a cabeça na cabeça de um outro colega... não resistiu. Foi um choque para todos nós. A escola fechou por uns dias, e a vizinhança nunca mais foi a mesma."
Fiquei em silêncio, absorvendo a profundidade da lembrança. "Nossa, eu não fazia ideia."
O professor sorriu novamente, dessa vez com um traço de tristeza. "A vida tem dessas coisas. A vizinhança mudou muito desde então, mas eu ainda conheço cada casa, cada família. Muitos vizinhos são ex-alunos meus, e alguns dos nossos colegas professores também foram meus alunos. Ver essa continuidade é gratificante."
Ele fez uma pausa, como se ponderasse sobre o tempo. "O que quero dizer, jovem, é que ser professor é mais do que ensinar conteúdos. É construir uma comunidade, entender as pessoas ao seu redor. Cada aluno, cada colega, cada vizinho faz parte dessa jornada."
Assenti, compreendendo a profundidade dos conselhos dele. "Obrigado, professor. Suas palavras fazem muito sentido. Às vezes, fico tão focado no trabalho que esqueço do impacto mais amplo que podemos ter." Ele deu uma pausa olhando na janela ensolarada, a paisagem era de um jardim não trabalhado, alguns passarinhos cantarolando e deliciando no fio de água que escorria do ar condicionado. Ele se encantava com a cena dos passarinhos se banhando como se o ar condicionado naturalmente fizesse parte da natureza. Ele tirava fotos com o celular e me mostrava a cena. Eu nunca havia olhado aquela paisagem cotidiana daquela maneira.
"Exatamente", respondeu ele. "Lembre-se sempre disso. A sala de aula é apenas um dos muitos lugares onde você fará a diferença". O professor esse dia não me ensinava apenas algum conteúdo, ou algum conselho, ou algo didaticamente relevante. Ele me ensinava naquela hora a olhar, a enxergar. Ele se levantou, dando um tapinha amigável no meu ombro. "Bem, vou deixar você terminar suas notas. Tenha um ótimo fim de semana". Enquanto ele saía da sala, senti uma renovada energia e propósito. As palavras do professor ecoavam em minha mente, mas mais do que suas palavras que já eram valiosas, os seus gestos me ensinaram mais do que anos de faculdade, e eu sabia que ele estava certo. Ser professor era, de fato, uma missão muito maior do que eu imaginava.