Quando o Homem Esquece a Areia

Acho a exaustão deveras curiosa. Principalmente se acompanhada da possibilidade do descanso, mas reprimida pelo ímpeto de ser. Meus dedos se movem sem força sobre as teclas enquanto minha mente divaga o cosmos todo em busca da resposta a uma pergunta que nem se fez ainda. Até onde, nas madrugadas sem dormir, a produtividade artística não se remete à um refluxo de ansiedade insone, insana e insossa. Um devaneio, uma tentativa de não sonhar, de não repetir as mesmas palavras de oração, o mesmo ciclo de olhos divagando a imaginação tortuosa ao sonhar.

Ao que me resta reclamar do imutável? Noites virão, sem dormir, com sono tranquilo, repletas de pesadelos ou leves como o abraço que acalenta a criança. Fútil, a insônia, mais que um mal de divagações ansiosas, magoas reprimidas, explosões entaladas – e particularmente, uma insuportável dor nas costas – todas remexidas num turbilhão distorcido de sonho e realidade.

Já há dias não durmo sem a luz da estrela me batendo a porta, dizendo contos heroicos de como o destino será salvo por um texto em plena madrugada – balela! Ilusão! Maya! – como se de doces palavras se mudasse um mundo, sendo que um coração muitas vezes não se abala por retórica.

Talvez as partículas estejam inquietas. Talvez os férmions se cansem de seu spin. Talvez os fótons queiram ser ondas quando são matéria. Talvez o padeiro quisesse acordar mais tarde, talvez ela não quisesse ter dito aquilo de maneira tão intensa para ele, talvez o ás de espadas seja a terceira carta do monte. Talvez o amanhã não seja contado pelas noites pregadas e sim pelos edifícios construídos.

Talvez tenha virado amanhã, e eu nem mesmo percebi

Ariel Alves
Enviado por Ariel Alves em 06/07/2024
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