Ensaio de um perfil
Ensaio de um perfil
Vale recordar Rachel de Queiroz (leia-se Raquel). Rachel, cujo ch ela fazia questão de usar ao autografar livros e assinar suas colunas em jornais que eu lia, religiosamente, no Estadão.
Riso ensaiado, rosto simpaticíssimo, vestia-se com certo esmero sisudo, metafórico para mim. Fala mansa (que não tem a ver com a banda ou conjunto musical existente), o porte de matrona escondia a menina cearense ousada que escreveu seu primeiro romance aos quinze anos. Certamente não prognosticou que “O Quinze” se tornaria um clássico da Literatura Brasileira.
Mas o título não se associa à idade (em foco) da escritora estreante naquela faixa etária e sim à seca (como boa escritora nordestina que se reporta a esse cataclisma) dos idos mil novecentos e quinze.
Criou personagens antológicas, cuja dupla romântica (quase um ensaio de amor platônico), Conceição e Vicente, se dissipou numa nuvem levada pelo tropel de cavalo. Que pena!
Inexplicavelmente, amanheci pensando em Rachel de Queiroz.Ainda me lembro do autógrafo da escritora naquela tarde (ou seria naquela manhã?) no Centro de Convenções Rebouças (São Paulo), no livro “As Três Marias”. Autógrafo seco, apenas o nome “de guerra”. E eu, ali, me beliscando para ver se era mesmo verdade que eu estava em frente àquela figura admirada, de óculos de lentes fortes, vestida de azul marinho. Eu me sentia como uma adolescente diante de seu ídolo artístico.
Naquela ocasião, a escritora confessou o seu namoro frustrado com tecnologia que já invadia a vida do escritor- o computador. Comprara um, entretanto, não o dominara ainda e não é que logo fora roubado?-Confessou com o mesmo riso ensaiado.
Tradutora de autores universais, além de autora de várias obras, brilhou na constelação de autores brasileiros, para nosso deleite, a menina do Ceará e senhora de Quixadá. Valeu!
Recebeu louvação de Manuel Bandeira. Onde quer que esteja (espero que bem ), aceite também minhas humildes loas.