Eu namoro uma ilusão
O que outrora foi concreto de momentâneo impensado tropeçou no pé do destino e se tornou surpreendente abstrato talvez perene. Houve sorrisos, sim muitos e demorados, quem diria tudo se desfaria fazendo do lago dourado do amor brotar eflúvios de dor, angústia e lágrimas!
Ela se foi chorando, deu as costas à solidez da cidadela construída, atônito, inerte e mudo permaneci olhando seus passos se afastando de minha presença. O ninho carinhosamente engendrado que ambos imaginamos titânico não passava de singelo castelinho de areia fina, evaporou no ar
Sonhos desfeitos, pilares ruindo, o pó empooeirou o coração de cá e escondeu o coração de lá, a felicidade, desolada mas firme, saiu cabisbaixa pela porta da frente sob o olhar atordoado e perdido de quem ficou. As paredes onde cada centímetro exalava o doce cheiro dela testemunharam meu desespero, a casa inteira chorava comigo.
Mas inesperadamente nem tudo voou, um liame quase invisível não percebida de instante nem por ela nem por mim, pequenina ponte sobre as emoções turbulentas de mim e dela, detalhe fugidio mas presente, jamais se rompeu. Sentimos e soubemos depois, e nos ligava, nos unia ainda que na distância.
Por causa desse nano fio indestrutível de certa feita ela se comunicou, falamos, ela veio eu recebi, ficamos. Sem necessidade de palavras. Dia seguinte, agora sorrindo e olhando para trás, lá se foi ela, eu agarrado aos pés da esperança e feliz. Nada nos prometemos nem fizemos juras, apesar disso sabíamos quão poderoso era o sentimento mútuo em nossas almas.
Voltamos a conversar, a nos amar, a sonhar. Embora o laço a nos unir seja reforçado, o mesmo teto não nos abriga não por decisão unânime, está ela lá e estou eu aqui sempre à espera do telefone tocar para escutar a voz dela dizendo: " meu amor, chego já. " Eu namoro uma ilusão.