Os pastores luteranos e a exposição

 

Um evento que há muito Charqueadas precisava é o Inventário Artístico da Memória Arquitetônica de Charqueadas, por seu carácter artístico e histórico sobre a cidade. Acontece até amanhã, das 14 às 19h, no mesmo local: hall de entrada do Centro de Eventos Eleve/ASES, localizado na rua Arthur da Silva Martins, nº 36, no Centro de Charqueadas - perto da antiga Usina da Eletrosul. Entretanto, escrevo em função da abertura, na segunda-feira.

 

Que evento, mas bah! Muito legal, demais. Fora a parte principal, ou seja, os desenhos do artista plástico Manoel Henrique Paulo (na imagem cima, a Capela de Santo Antônio) e os textos produzidos pela sua equipe - Manuella Ledvinka, Betinna Lopes, Pedro Duarte e Pedro Souza - sob a curadoria do professor de artes Luiz Roberto Barbosa, a abertura reuniu uma grande quantidade de artistas, pessoas interessantes e gente boa da comunidade, rendendo altos papos ligados a temática da exposição, regados a um bom vinho, água mineral e deliciosos salgadinhos. A D O R E I !

 

Por falar em pessoas interessantes, conversei pela primeira vez com o senhor Samuel Gelb, de 86 anos bem vividos: nascido em 1937 em Arroio dos Ratos, dentre outras coisas foi executivo da Gilette, morou 25 anos no Rio de Janeiro (não gosta da cidade) e chegou a passar frio na sede da empresa, em Boston - seu filho, Ricardo, já me disse que ele inclusive esteve no Palácio Piratini durante a Legalidade. E retomando nossa conversa, vejam que, além de saber coisas que poucos sabem sobre a Colônia do Solar dos Barcelos (imagem abaixo), ainda me brindou com uma informação que, até eu que sou nativo da vila, lá nascido e criado, ignorava.

 

Pois bem, descobri em 2019 lendo A IIª Guerra Entre Nós, do historiador e jornalista residente em Torres Nelson Adams Filho, que a Colônia Penal foi um campo de concentração onde 64 pastores luteranos de origem alemã foram detidos durante a Segunda Guerra Mundial, nos primeiros anos da década de 1940. Isso, para certa surpresa minha, o senhor Gelb sabia, mas a informação que eu não tinha e que ele me passou foi a de que a pia batismal lá construída pelos religiosos possuía, como base, uma suástica. Imaginem, a base construída tinha esse formato. Vivendo e aprendendo.

 

Mesmo sendo filho e neto de servidores penitenciários da Colônia Penal, nunca ouvira essas histórias. E vejam que meu avô já trabalhava por lá na época e, portanto, deve ter até cuidado dos detidos. Todavia, ninguém comentava isso por lá na década de 1970, devia ser um tipo de tabu entre os servidores, mas o senhor Samuel sabia e me disse, cinquenta anos depois, na exposição do Manoel. Tudo a ver, pois, em ambientes culturais efervescentes e propícios, uma coisa leva à outra de mesma natureza, gerando trocas e partilhas e sempre acrescentando algo para os presentes. Por isso digo: vão lá amanhã e confiram essa exposição. Megaultrasuperhiper recomendo.

 

PS - Conversa vai, conversa vem, minha prima Paula - estudamos juntos da 1ª à 8ª séries - se aproximou e recordou que nós tínhamos medo do Casarão - o nome pelo qual o Solar era popularmente conhecido. Embora a própria memória seja suspeita por bajuladora, sinceramente lembro de, junto com o meu amigo Eduardo "Gó", ir seguido lá explorar o prédio, principalmente o porão, com grande destemor e curiosidade infantil.