Entre Sem Bater - Eugenia e Moralidade
Nietzsche disse:
"... o desenvolvimento da moralidade superior depende de um homem ter filhos ..."(1)
De acordo com a proposta desta trilha de publicações, Nietzsche, será uma das presenças mais constantes. Desse modo, temos outro pensamento, emblemático, e que exige dos leitores mais do que somente uma rápida leitura. Os monstros(2), com abordagem mais simples, são temas que se relacionam mesmo atualmente. A eugenia e as questões de paternidade possuem relações estreitas com um Estado totalitário e os representantes do povo.
EUGENIA
Este texto tem como fundamentação três eixos, aparentemente desconexos, mas que traduzem o nível de eugenia a que chegamos. Notadamente no Brasil, um país com alta miscigenação(*), e que o racismo explodiu nos últimos anos, a situação parece mais grave. Se tínhamos, por exemplo, o racismo explícito no Apartheid da África do Sul, aqui no país, nunca foi claro. Por outro lado, o racismo ainda é presente nos EUA, com as declarações cada vez mais fortes e o envolvimento político transparente. Nos EUA, com toda a certeza, a hipocrisia em relação ao racismo e até mesmo com a eugenia é evidente.
TRÊS CASOS
Produção cinematográfica não ficção, de 2012, com o nome "As mães do Terceiro Reich".
Ataques da deputada Carla Zambelli a um negro e a deputada Benedita da Silva.
Manifestações sobre capacidade das pessoas a partir de premissas da evolução humana sob o capitalismo.
As três abordagens exigem algumas explicações iniciais.
Terceiro Reich
"As Mães do Terceiro Reich" é trágica história de muitas meninas-mulheres francesas sob a ocupação nazista. A produção narra um episódio histórico através da amizade e do destino trágico de duas meninas da Alsácia. Segundo Nina Barbier Les Malgré-elles, é a história de sua mãe e uma amiga, durante o período de 1942 a 1945. Essas mulheres sofreram nas mãos dos nazistas e após a guerra ainda receberam a rejeição pelas suas filhas fruto da eugenia nazista.
Carla Zambelli
No limiar das eleições de 2022, a deputada Carla Zambelli correu atrás de um homem negro com uma arma em punho. A deputada sofreu processo mas vai se livrando de qualquer condenação. Recentemente, fez ofensas verbais e praticou claro racismo ao referenciar a deputada Benedita da Silva como "Chica da Silva". A pretensa eugenia que esta deputada almeja para si é um reflexo das políticas que ela e seu grupo defendem.
Evolução Humana
Desde Darwin, alguns evolucionistas misturaram-se com criacionistas em suas teorias da evolução. Surpreendentemente, a frase de Nietzsche resume a estupidez desta superioridade, escondendo o racismo de forma desonesta. A eugenia que os liberais demonstram nas redes sociais é mais do que assustador e perverso. Plataformas de relacionamento, como por exemplo o LinkedIn, deixam estes liberais à solta e livres de qualquer admoestação.
EUGENIA TUPINIQUIM
Assim sendo, temos um ambiente que nos remete ao pensamento de Nietzsche e que vinculam as coisas de Estado, a eugenia e a moralidade. Um pastor leva seus filhos "puros" para estudar nos EUA e recomenda aos seus dizimistas que não frequentem uma faculdade. A segregação, eugenia ou o nome que se dê está nas redes sociais, e misturando política, religião e comportamento desumano.
HOMEM SEM FILHOS
O pensamento de Nietzsche é, com toda a certeza, aplicável em diversas situações das redes sociais.
"Se um homem não tem filhos, ele não tem pleno direito de falar sobre as necessidades de uma única questão de estado. Ele tem que ter arriscado com os outros o que é mais precioso para ele; somente então ele está firmemente ligado ao estado. É preciso considerar a felicidade de seus descendentes e, portanto, acima de tudo, ter descendentes, para tomar parte adequada e natural em todas as instituições e suas transformações. O desenvolvimento da moralidade superior depende de um homem ter filhos: isso o torna altruísta ou, mais exatamente, expande seu egoísmo ao longo do tempo e permite que ele busque seriamente objetivos além de sua vida individual."
Friedrich Nietzsche , Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres (M. Faber, trad.), University of Nebraska Press Lincoln, (1996), §455
É provável que Carla Zambelli, áulicos de redes sociais, celebridades e os assassinos nazistas nunca leram algo de Nietzsche. Certamente, os liberais das redes sociais vão dizer que isso é coisa de "canhotos" ou de "gente que não sabe debater". No Brasil, estes seguidores adoram dizer que não são de extrema-direita e que quem não concorda com eles não têm qualificação.
Inquestionavelmente, a eugenia existe há muito tempo, esteve quase a ponto de determinar uma Europa "livre" de raças impuras. E o que mais assusta é que brasileiros "com os dois pezinhos na África", se aliam a higienistas e supremacistas.
IMORALIDADE
O racismo(3) explícito, mesmo que apenas verbal, é imoral e um disfarce para a defesa da eugenia. Este comportamento (eugenia), continua sendo um movimento de "melhoria" da raça humana através da seleção e exclusão de atributos. Do mesmo modo que a narrativa em "As mães do Terceiro Reich", as práticas eugenistas obtiveram condenações amplas. Assim sendo, o racismo, em sua essência, carrega a mesma ideologia de hierarquização e exclusão a partir de características raciais.
Quando uma pessoa usa expressões racistas, está, de certa forma, perpetuando a ideia de que certas raças são superiores a outras. Esse discurso, ainda que verbal cria um ambiente em que a discriminação e a desigualdade transformam-se no "normal". O racismo explícito busca manter o status quo de grupos com privilégios e que subjugam e marginalizam outros grupos. Essa justificativa se assemelha ao pensamento eugenista, que buscava um "melhoramento" da humanidade através da eliminação de características indesejáveis.
TEMPOS MODERNOS
Nesse ínterim, nas redes sociais, o racismo explícito como eugenia sob disfarce tornou-se particularmente prevalente. Perfis falsos e anônimos muitas vezes compartilham ideias racistas sob o pretexto de discutir diferenças culturais ou biológicas. Esses discursos escondem-se atrás de uma fachada de cientificidade, com alegações pseudocientíficas. Estes pseudoargumentos tentam legitimar a inferiorização de certos grupos raciais, étnicos e até ideológicos.
O uso de termos como "QI médio" de diferentes raças ou a suposta predisposição genética são, por exemplo, diversionismo e enganação. As narrativas neste tipo de conteúdo mostram como o racismo verbal tenta se disfarçar de debate científico legítimo.
Além disso, as redes sociais possibilitam a disseminação rápida e ampla dessas ideias, criando bolhas de desinformação. Desta forma, reforça-se o racismo, a eugenia e raros são os debates sobre o tema, a pretexto de alguma superioridade intelectual.
Por isso, perpetua-se a exclusão e a marginalização de grupos, alinhando-se com o objetivo eugenista de "purificação" racial. A aparente inofensividade de palavras em comparação com ações diretas de violência física é enganosa(4). O impacto psicológico e social do racismo verbal é, sem dúvida, profundo e duradouro, mesmo que menos explícito e mais insidioso.
EUGENIA REAL
No mundo real, vemos essa eugenia sob disfarce nas políticas públicas e práticas institucionais. Desta forma, embora não declaradamente racistas, geram efeitos desproporcionalmente negativos sobre minorias raciais. Exemplos incluem discriminação no mercado de trabalho, no sistema de justiça criminal e no acesso à educação e saúde. As justificativas para essas desigualdades frequentemente recorrem a estereótipos raciais e à ideia de uma hierarquia racial "natural".
Enfim, é crucial reconhecer que atitudes racistas explícitas, mesmo que verbais, são mais do que simples preconceitos ou ignorância. Elas são imoralidades de uma ideologia que visa a exclusão e subjugação de certos grupos. Refletem, com toda a certeza, uma forma moderna de eugenia, preconceito e manifestação de superioridade. Combater esse tipo de racismo exige um esforço contínuo de educação, sensibilização e políticas públicas que promovam a igualdade. Em suma, é vital desmascarar a pseudocientificidade das ideias racistas, eugenistas e de pensamentos totalitários de quem se diz liberal.
Amanhã tem mais ..."
P. S.
(*) Miseravelmente, muitos brasileiros se acham de alguma raça pura que nunca foram. Chegamos ao ponto de um político, depois de ser vice-presidente, eleger-se para o senado e continuar demonstrando racismo e preconceito.
(1) "Entre Sem Bater - Nietzsche - Eugenia e Moralidade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/07/04/entre-sem-bater-nietzsche-a-eugenia-e-a-moralidade/
(2) "Entre sem bater - Nietzsche - Monstros (Ungeheuem)" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/03/31/entre-sem-bater-nietzsche-monstros-ungeheuern/
(3) "Entre sem bater - Abdias do Nascimento - O Racismo no Brasil" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/10/04/entre-sem-bater-abdias-do-nascimento-o-racismo-no-brasil/
(4) "Entre sem bater - Jacques Abbadie - Lei do engano" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/05/09/entre-sem-bater-jacques-abbadie-lei-do-engano/