Moisés e a Ingratidão

Apesar de não ser uma pessoa religiosa, ao longo da minha vida, aprendi diversos valores e ensinamentos morais por meio das histórias bíblicas. Uma dessas narrativas que me marcou profundamente é a história do patriarca Moisés, líder dos hebreus. Lembro de ouvir com atenção e nunca me esquecer dela nos tempos de criança, período que estudei em um colégio adventista e aprendia grandes lições com uma professora e bela contadora de histórias chamada Madalena.

Moisés, um grande líder do povo hebreu, desbravou o deserto durante anos, guiando-os rumo à terra prometida. Ele liderou todos na travessia do Mar Vermelho, organizou para que fossem libertos do cativeiro egípcio, conversava diretamente com o deus cristão e recebeu as tábuas dos Dez Mandamentos, fundamentos essenciais para aquela sociedade. No entanto, um momento de impaciência mudou o curso de sua trajetória.

Quando o povo estava prestes a alcançar a terra prometida, Jeová instruiu Moisés a falar com uma rocha para que ela jorrasse água e saciasse a sede do povo. Porém, em um ato impulsivo, o líder bateu na rocha com violência, desobedecendo à ordem divina. Como consequência, ele foi repreendido e não pôde conduzir o povo até o destino.

Essa história transcende o aspecto religioso e nos ensina sobre a ingratidão, uma ótima ilustração sobre este tipo de situação. Mesmo após anos de dedicação, um único erro pode anular todo o esforço. A ingratidão, presente nas relações humanas, surpreende negativamente. Quando oferecemos ajuda ou apoio, esperamos gratidão, mas nem sempre a recebemos.

A fraqueza da ingratidão impede o crescimento emocional e a conexão com os outros. Reconhecer a importância do que recebemos e evitar julgamentos precipitados são lições valiosas. Moisés, cansado e frustrado, enfrentou esse desafio, e sua história continua a nos inspirar a não sermos ingratos.

Pensando sobre a situação, deve ter sido muito frustrante depois de tantos anos, tantos esforços, Moisés não ter recebido a recompensa pelos seus atos. Deve ter se sentido injustiçado por um pequeno ato seu, um simples erro ter colocado tudo no chão do nada, da perfeita ingratidão.

Em tempos de cancelamentos virtuais e linchamentos públicos de reputações, a ingratidão deve ser muito bem refletida. Obviamente que existem erros, crimes que são imperdoáveis e são dignos de trucidar a imagem que se tem de uma pessoa. Mas muitas vezes pequenos erros, equívocos, colocam abaixo um caráter construído em contínuo esforço e generosidade com o próximo. A gratidão é o adubo que demoradamente nutre os relacionamentos; a ingratidão, o veneno instantâneo que os destrói sem levar em conta nada do que foi feito antes.

03.07.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 03/07/2024
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