A liquidez dos tempos modernos: refletindo com Bauman

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman observou uma notável transformação na sociedade: uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.

Quase nada tem sido feito para durar: o consumismo acelerado não se refere somente à produtos, mas também a relacionamentos em amplo sentido.

A quantidade e variedade tornaram-se mais importantes que a solidez e qualidade, antes características mais valorizadas.

Quase tudo é frágil e descartável, mas numeroso - e rápido. São muitas opções, a oferta é numerosa. Porém, a qualidade e a durabilidade, muitas vezes duvidosas.

Pessoas se comportam cada vez mais como produtos. E são igualmente consumidas como tais. Tudo é muito descartável e superficial. Passa-se para o próximo produto, em meio às várias opções. O vício em recompensa imediata predomina: sair uma ou duas vezes já deixa "o produto" sem graça. Há mais opções, vamos provar as outras.

Enquanto isso, alguns bons hábitos são esquecidos. Os últimos românticos estão cada vez mais escassos. Até conversar, para alguns, é um obstáculo. Afinal, acredite, por falta de conteúdo, há quem ache chato ou monótono conversar - a essência mínima de um bom entrosamento. Alguns dizem:

-Cuidado, se fala muito é carente. Pode ser um borderline ou mesmo um psicopata em potencial. Uma pessoa que senta-se à mesa num primeiro encontro e já vai logo sendo a sincerona, falando de si, do seu passado, experiências...deve ser narcisista.

Bom mesmo é demonstrar poucas emoções. Mas o corpo, esse pode mostrar bastante. Se for homem, tire a camisa, manda logo uns nudes e faz cara de "mau". Lembre-se, quanto menos sentimento demonstrar, melhor. Se for mulher, mete logo um decotão e uma roupa curta envelopada, pra mostrar seus melhores atributos e impressionar o cara. Seja homem ou mulher, lembre-se, não demonstre emoções, nem sorria muito. É mais sexy fazer "carão", mas sem abrir o coração.

Joguinhos de desinteresse são bem vindos. Demore a responder as mensagens e não fique mandando bom dia ou boa noite.

Há diversos influencers e criadores de conteúdo ensinando técnicas de conquista. É sério que precisamos disso? Para qual planeta mudou-se a espontaneidade?

Esses são os comportamentos, em regra, dos adeptos dos relacionamentos líquidos.

Geralmente não conhecem uma pessoa por vez, são muitos contatinhos. Não são apenas adolescentes que se comportam assim. Há vários homens e mulheres, na casa dos trinta, quarenta...cinquenta anos, vivendo de romances breves e líquidos. Se estão felizes? Não sei. Tenho minhas dúvidas.

Só sei sobre mim: me recuso a fluir com tanta liquidez. Prefiro a paz e solidez de uma solitude bem vivida, à liquidez moderna mal acompanhada.