Jeca Gay

Todo mês de junho, o setor se enfeita com bandeirolas, balões, fogueiras desenhadas e tudo que envolve o universo das festas de São Junina (ou São João).

Cada um recebe um casal de bonequinhos, unidos por um barbante com dez bandeirolas coloridas, para colocar como enfeite na parte de cima do monitor do computador.

O casal, Ele e Ela, são caracterizados como caipiras, com suas roupas costuradas, chapéu de palha, ela com tranças e vestido listrado, ele com bigode e camisa de flanela listrada.

Desde o primeiro ano na empresa, eu protestei e disse que queria um casal de dois bonecos homens, a fim de me sentir representado. Todos os anos isso gera comentários do tipo "é só uma bandeirola", "é só para enfeitar".

Após oito anos de empresa, continuo pedindo anualmente o casal de meninos.

Modifiquei o que me deram lá atrás, tirando a menina e colocando outro menino.

Assim, sou o único que tem dois bonecos de caipiras como enfeite.

Essas coisas podem parecer bobas, efêmeras e desnecessárias. Mas eu, assim como a maioria dos LGBTs, pelo menos da minha geração, crescemos sem nenhuma representatividade em lugar nenhum.

Para todos os lugares que olhávamos, não nos identificávamos: livros, filmes, músicas, novelas.

Sempre fomos representados de forma pejorativa e ridicularizada.

Acredito que essas pequenas ações, como exigir uma decoração que rompa a binaridade heteronormativa, são uma forma de afirmar nossa existência e nossos direitos.

Para você que é hetero branco (CIS) e sempre se viu representado em todos os lugares desde que era um bebê, isso pode soar desnecessário, mas para nós é uma forma de resistência.

Ter símbolos e figuras que nos representam no cotidiano pode parecer trivial para alguns, mas para quem sempre esteve à margem, isso é um ato de reivindicação e de fortalecimento da própria identidade.

Além disso, esses gestos não são apenas sobre decoração ou pequenos prazeres pessoais; eles representam a luta contínua por reconhecimento e igualdade.

A ausência de representatividade em espaços comuns perpetua a invisibilidade e o sentimento de exclusão.

Quando exigimos visibilidade e reconhecimento, estamos desafiando estruturas estabelecidas e lutando por um mundo onde todos possam se ver refletidos de maneira justa e digna.

A luta por representatividade também tem um impacto profundo na próxima geração.

Crianças e jovens que crescem vendo a diversidade reconhecida e celebrada desenvolvem um senso mais forte de autoaceitação e respeito pelos outros.

Ao incorporar essas mudanças, estamos pavimentando o caminho para uma sociedade mais inclusiva e empática, onde as diferenças são não apenas toleradas, mas celebradas.

Viva São João!

Viva a diversidade!