ERA UM GAROTO QUE COMO EU AMAVA OS BEATLES E OS ROLLING STONES

Tudo que eu mais queria naquele ano de 1992 era ter um quarto só para mim, ter enfim a tal “privacidade”.

Antes de perder a virgindade e descobrir que havia coisas no mundo melhor que refrigerante e pipoca, a minha felicidade era assistir televisão; não era como hoje que cada um têm uma mini televisão na cara 24 horas por dia.

Era uma luta poder assistir algo que você gostava, com seis pessoas dentro de casa.

Parei de sair com meus pais e meus irmãos. Meu pai, depois que teve uma briga com um amigo dele, ficou igual um cachorro que caiu do caminhão da mudança. Ele tinha facilidade de fazer amigos, trabalhando de taxista conhecia muita gente, e durante um certo período todos os fins de semana sempre tinha uma festa, um batizado, um almoço ou um casamento para ir.

Aquela rotina no fim de semana foi me enchendo de ódio, já sabia cozinhar (minha mãe me ensinou sem pressão nenhuma), então decidi não sair mais com eles.

Era um alívio não ter ninguém em casa. Sábado era o melhor dia, de noite passava as séries que eu mais gostava na tv, Voyagers – os viajantes do tempo e Combate no Vietnã, que conversavam perfeitamente com o filme que eu mais gostava na época, O Exterminador do Futuro 2.

Outros fatores também não ajudavam na minha vontade de sair de casa, a cara cheia de espinhas (parecendo um abacaxi) e meu pai me humilhando, porque eu ainda não havia ficado com alguma garota, pensavam que eu era gay, na verdade, era só timidez, as meninas também não ajudavam muito, escolhendo sempre os caras que mais lhe agradavam os olhos.

Também podia ouvir as músicas que eu quisesse no som 3 em 1, e fazer leituras sem ser interrompido por minha mãe que sempre me colocava para varrer, encerar o chão, lavar e passar roupa, etc.

Hoje tenho uma casa com sete cômodos só para mim, consegui finalmente o que eu queria. Vou vender essa desgraça...

TELLY S M
Enviado por TELLY S M em 03/07/2024
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