Entre Sem Bater - Os Judeus Importantes

Joachim von Ribbentrop disse:

"... eu sei com certeza que essa ideia dos judeus causando a guerra e dos judeus sendo tão importantes é um absurdo ..."(1)

O currículo de Ribbentrop, especialmente no final de sua vida e na sua condenação, indicariam que as frases dele não podiam ser inteligentes. Entretanto, quando o diplomata alemão se justifica sobre as atrocidades que cometeu contra os judeus é importante fazer reflexões. Os depoimentos que os nazistas prestaram em Nuremberg deveriam servir de fonte de análise sobre os momentos de terror que vivemos.

OS JUDEUS

Alguns temas possuem características específicas de quem escreve e de diferentes leituras, a partir de dogmas e crenças. Quando se escreve sobre os judeus é impressionante como todos os leitores imaginam que devem se posicionar em um dos lados. Nesse caso, "um dos lados" é ser sionista ou antissionista. Desta forma, o mundo, desde priscas eras mostra que as civilizações, em sua maioria, são binárias e cartesianas.

Em outras palavras, podemos dizer que logo após ler o título deste texto, a maioria dos leitores já decidiu se era contra ou a favor. Como se não bastasse, o julgamento(*) sobre a pessoa do autor do texto é certeiro e acusador, não admitindo-se margem para nenhum debate.

Desse modo, venho acompanhando uma infinidade de documentários sobre a Segunda Grande Guerra e associando pensamentos aos dias atuais. Assim sendo, a frase de Ribbentrop merece destaque pois poderia ser uma das frases do líder dos judeus da atualidade. As guerras religiosas(2), em especial as que travam os judeus contra os palestinos, nunca tiveram nenhum sentido ou racionalidade.

Todas, sem nenhuma exceção, têm sua origem na intolerância e na total incapacidade de aceitação das diferenças. Desse modo, é natural que as nossas redes sociais reflitam exatamente este comportamento na maioria das pessoas.

REDES SOCIAIS

Participo de redes sociais e aplicativos de plataformas que reúnem perfis heterogêneos para política, religião e filosofia de vida. É terrivelmente assustador como as pessoas se sentem livres para misturar os temas e se meter a ser dono da verdade. Especialmente com questões religiosas e hipocrisia social, não existe a mínima possibilidade de recuperação.

Um hipócrita, pela manhã publica uma mensagem de bom dia e segundos depois está vociferando contra alguém de outra religião. Na política, aquele pastor que vive do dízimo, prega que as mulheres não devem estudar e sim servir ao marido. E, com toda a certeza, muitas destas mulheres darão razão ao pastor e contribuirão para a vida de luxo da família do pastor.

Em suma, o enigma da frase de Ribbentrop sobre os judeus serviu de justificativa para o que ele e outros fizeram. Vivemos tempos estranhos em que muitas crueldades e crimes estão se repetindo, com as pessoas defendendo estes comportamentos. Chegamos ao cúmulo em que cristãos, que são adversários dos judeus, se unem a estes contra os palestinos ou mulçumanos. É provável que ao utilizarem a bandeira de Israel em seus tempos e manifestações os evangélicos neopentecostais estejam criando uma nova seita.

Enfim, a irracionalidade avança e piora muito quando a extrema-direita avança mundo afora, misturando política e religião. O planeta, definitivamente, vive pequenos holocaustos e que até judeus são algozes de quem os enfrenta.

GUERRA RACIAL

Em primeiro lugar, é preciso separar porque qualquer assunto sobre judeus é polêmico. Desse modo, fundamentalmente temos a oposição entre o semitismo e o antissemitismo. É necessário discernimento para qualquer situação que envolva o que a sociedade entende, atualmente, como judeus.

Assim sendo, saber diferenciar judeus, semitas, sionistas, antissemitas, racistas, supremacistas e afins. Alguns destes termos surgiram no final do Século XIX e é impossível, neste texto, formar qualquer base destes conceitos. Por isso, a partir da ideia e diferenciação básica de todo este contexto religioso-político é impossível qualquer debate. Contudo, podemos afirmar que a confusão mental das pessoas nas redes sociais tem como causa saberem pouco da história deste tema.

TEMPOS MODERNOS

A revolução digital trouxe à tona, sem dúvida, alguns dos maiores equívocos sobre semitismo e antissemitismo. Os preconceitos e a desinformação recrudesceram numa escala sem precedentes e velocidade sem controle. As plataformas de mídia social, amplificando vozes individuais, são terreno fértil para a propagação de narrativas com distorções imensas. Desta forma, torna-se impossível qualquer possibilidade de resolução racional das polêmicas religiosas na sociedade moderna.

O uso moderno do termo semitismo tem vinculação, predominantemente, aos judeus, de Israel ou suas comunidades no mundo. Esse equívoco amplifica-se nas redes sociais, com discursos simplistas e reducionistas. O desconhecimento histórico e cultural contribui para a disseminação de informações errôneas, até mesmo de forma intencional. O semitismo mistura-se, frequentemente, com o judaísmo, desconsiderando a rica diversidade de povos semitas.

O antissemitismo, por outro lado, é um preconceito específico contra os judeus, efeito de uma longa história de perseguições e estereótipos negativos. Nas redes sociais, o antissemitismo encontrou um novo palco para sua expressão. As teorias da conspiração, como as falsas alegações de um "controle judaico" sobre instituições financeiras e políticas, se espalham rapidamente. Embora muitas destas teorias possam ter alguns exemplos, que não as tornam uma regra geral e muito menos são exceções.

Em todas as plataformas de redes sociais, a facilidade com que essas ideias avançam cria bolhas e guetos inexpugnáveis. Prevalece, para seus usuários, certamente, a desinformação, solidificando preconceitos(3) e alimentando o ódio(4).

ALGORITMOS MALIGNOS

Entre profissionais especialistas em sociedade moderna discute-se se os algoritmos ou as pessoas são malignas. Em última análise, são as pessoas que são malignas, pois elas constroem os algoritmos que viciam e prejudicam outras pessoas. Por isso, a situação agrava-se quando os algoritmos das redes sociais priorizam o engajamento, acima de tudo e de todos.

Conteúdos polêmicos e emocionais tendem a gerar mais reações, comentários e compartilhamentos, e as plataformas os promovem de maneira desproporcional. Isso gera um ciclo onde discursos de ódio e desinformação crescem, enquanto vozes de ponderação somem ou diminuem.

A polarização resultante torna ainda mais difícil estabelecer um diálogo racional e construtivo sobre temas sensíveis como o semitismo e o antissemitismo.

Além disso, os grupos de interesse nas plataformas digitais ampliam e blindam as bolhas ideológicas. Os usuários seguem as pessoas e páginas que compartilham de suas crenças e opiniões, o que limita a exposição a perspectivas diferentes. Essa manipulação mental fortalece preconceitos existentes e cria um ambiente hostil para debates racionais.

Desse modo, é comum, ao se desafiar esses dogmas e crenças, os questionadores receberem ataques pessoais, inclusive reais. E, surpreendentemente, discussões sobre questões menores ou de forma ficam acima da ideia dos judeus importantes de Ribbentrop.

JUDEUS IMPORTANTES

A frase original:

"Eu sei com certeza que essa ideia dos judeus causando a guerra e dos judeus sendo tão importantes é um absurdo. Mas essa foi a ideia de Hitler, e... era pura fantasia. Como eu disse, Hitler é um enigma para mim e sempre permanecerá assim." (Joachim von Ribbentrop)

Acima de tudo, a frase de Ribbentrop revela que a defesa dele para seus atos cruéis tinha alguma explicação. Inacreditavelmente, não somente contra os judeus, existem milhões de pessoas que pensam como o alemão. Do mesmo modo que Ribbentrop disse ser pura fantasia(5), muitas sociedades vivem desta fantasia atualmente.

A possibilidade de resolver racionalmente as polêmicas religiosas na sociedade moderna parece cada vez mais fora de alcance, por vários fatores. A desinformação sem controle, o crescimento da polarização e a incapacidade de engajar em diálogos construtivos é real e atual. Os efeitos e sintomas sobre a nossa sociedade são claros e evidenciam um problema maior: a fragmentação do discurso público.

Enquanto as redes sociais continuarem a priorizar o engajamento sobre a veracidade e o respeito, os equívocos e a intolerância persistirão. Assim sendo, alimentam-se divisões e impede-se a construção de uma sociedade mais compreensiva e tolerante.

Para mitigar esses desafios, é essencial promover a educação crítica sobre história e cultura. Devemos fomentar o diálogo que valorize a diversidade de perspectivas e tratar com restrições os conteúdos prejudiciais. Somente através de um esforço conjunto será possível combater a desinformação e construir pontes entre as diversas comunidades que compõem nossa sociedade global.

Os judeus, certamente, não iniciaram a maioria das guerras modernas, mas protagonizaram e protagonizam muitas delas, inclusive genocídios. A importância dos judeus é a mesma dos cristãos, contudo, muitos praticantes de outras crenças são igualmente responsáveis pelo caos.

Não há como negar que as redes sociais deram palanque para qualquer um e todos que saem do armário tem muitas coisas ruins para mostrar.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) Os grupos de redes sociais, especialmente Whatsapp, e o ex-Twitter são a representação máxima da estupidez humana. Como se não bastasse, seres humanos que se acham superiores, a todo momento atuam bloqueando ou menosprezando qualquer visão diferente. O diálogo seja por qual motivo ou tema, tornou-se inviável. E quando entra-se em qualquer debate, todos querem bater, coitado do Barão de Itararé e sua frase "Entre Sem Bater".

(1) "Entre Sem Bater - Joachim von Ribbentrop - Os Judeus Importantes" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/07/02/entre-sem-bater-von-ribbentrop-os-judeus-importantes/

(2) "Entre Sem Bater - Schopenhauer - Guerras Religiosas" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/05/entre-sem-bater-schopenhauer-as-guerras-religiosas/

(3) "Entre Sem Bater - Voltaire - Preconceito" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/07/11/entre-sem-bater-voltaire-preconceito/

(4) "Ódio - Um Sentimento Mesquinho" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/01/16/odio-um-sentimento-mesquinho/

(5) "Entre Sem Bater - Edward Snowden - Fantasia e Realidade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/05/08/entre-sem-bater-edward-snowden-fantasia-e-realidade/