ARRASOU

Francisco de Paula Melo Aguiar

A língua portuguesa em seus fundamentos epistemológicos, filosóficos, ideológicos, éticos e sociais, falam ou depõem em todas e quaisquer situações temporais e atemporais, por exemplo, quando alguém em sua sã inocência ou não, declara que "arrasou", flexão originária do verbo "arrasar", portanto, terceira pessoa do pretérito perfeito do modo indicativo do verbo antes mencionado, tem sentido duplo na conotação e na denotação, pode esconder um aplauso ou critica positiva ou negativa, pois, "a voz do inconsciente é subtil, mas ela não descansa até ser ouvida", segundo Sigmund Freud, o pai da Psicanálise.

Se bem que alguém dizer "arrasou" é o mesmo que dizer que alguém: abafou, abalou, arruinou, assolou, destruiu, devastou, sim, porque a nossa língua mãe ensinada na academia é diferente em versos e em prosas nos falares das pessoas letradas e iletradas, assim a confusão é de vaca não reconhecer o bezerro...

A nossa língua mãe é a expressão maior, porém, não é a única de nossa exaustão visual, afetiva e comportamental de nossas ações de elogio e de espanto, diante dos nossos feitos e dos nossos não feitos em qualquer sentido da vida em termos positivos ou negativos.

Até aí tudo bem, porém, se sabe quando o elogio é sincero e quando não o é, uma espécie de veneno enrustido para aumentar ou acrescentar o que existe ou não existe se a situação fosse diferente, como por exemplo, aquela família que oferece todas às condições materiais para o filho estudar em colégios e universidades do Brasil e ou do mundo, porém, ele não leva a sério o próprio futuro e muito menos se prepara para suceder os genitores à frente da propriedade rural ou urbana, negócio familiar, por exemplo, uma empresa, uma indústria, uma escola, uma universidade, uma usina, um engenho, um hospital, um caldo de cana, etc, na ausência deles seja por aposentadoria, afastamento ou por morte ou luto.

Isto mesmo, porque "tenha em mente que o valor de uma pessoa é medido pelo valor daquilo que ela valoriza", segundo o imperador romano Marco Aurélio (121-180).

E até porque o luto aparece inevitavelmente na vida de qualquer pessoa rica ou pobre, doutor ou não, a alegria de um é o choro do outro, ontem, hoje e sempre. O dia seguinte é o problema de vida ou de morte das pessoas físicas e das pessoas jurídicas.

Portanto, o ciclo do luto é universal, como por exemplo: sair do emprego ou do trabalho; fechar ou falir uma empresa; finalizar o curso da escola básica e ou da faculdade; lembrar da vida que tinha antes e da vida que tem atualmente; mudar de casa, de cidade e de país; finalizar algum ciclo da vida, a exemplo: sair da infância, da adolescência, da vida adulta e ingressar na velhice, cujas fases são normais do ser humano; terminar o relacionamento afetivo, via divórcio, separação e ou por morte.

Ainda que por analogia ao pensamento do psiquiatra, psicoterapêutico e fundador da psicologia analítica, o suíço Carl Jung (1875-1961) ao afirmar que "a pessoa só consegue ver no outro aquilo que de certa forma, já possui em si", porém, se o filho não se preparou para suceder os pais nos negócios empresariais deles, quando o luto bater à porta a empresa se enterra com com os pais.

A vida é assim mesmo, nossos pais já diziam que depois dos trinta anos de idade, ficamos velhos e começamos a adivinhar os acontecimentos, de modo que vem corroborar com isto o fato de "a tragédia da vida é que ficamos velhos cedo demais. E sábios tarde demais", segundo o pensamento do polimata Benjamin Franklin (1706-1790), um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América.

E assim sendo, o arrasou, triunfa ou não triuna diante dos olhos físicos dos concorrentes, invejosos, trabalhadores e ou preguiçosos, daquele tipo, se o filho de Fulano se formou ou se graduou, neste e ou naquele curso universitário, aí a turma do "arrasou", silencia perante a sociedade ou gueto a que pertence, porque o fato é importante ou positivo, porém, se for pego roubando, assaltando, sequestrando, traficando, etc, desde que tais fatos e atos deponham contra os costumes do indivíduo e da podre sociedade, aí o arrasou é o prato do dia em todas as falações das redes sociais, em termos negativos.

Isto mesmo, porque "se quiser saber quem controla você, é só observar a quem você não pode criticar", segundo o historiador e senador romano Públio Cornélio Tácito (c.56 - c.117).

E isto ocorre porque se trata de inveja velada a procura de pontos negativos contra o filho de Fulano, porque Sicrano já vive e convive em terra arrasada, isto mesmo, diante do insucesso de seu filho na vida ou na academia.

Aí fica naquela dicotomia se Beltrano tivesse estudado seria igual ou melhor do que Fulano, mera ilusão, porque ninguém é melhor ou pior do que ninguém, porque é rico ou pobre ou porque é letrado ou iletrado.

Nada haver com o arrasou, porque "um homem que não se alimenta de seus sonhos, envelhece cedo", no dizer do poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616).

Arrasou!!!

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 02/07/2024
Reeditado em 04/07/2024
Código do texto: T8098169
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