"Um Legado Florestal: A Vida e o Legado de Marcílio Caron Neto"

 

Moacir José Sales Medrado[1]

 

Na manhã de quarta-feira, 27 de junho de 2024, o setor florestal brasileiro despertou mais triste. Marcílio Caron Neto, um dos grandes entusiastas e defensores das florestas plantadas, fez sua passagem para o outro plano aos 77 anos. Sua vida foi um testemunho do compromisso incansável com a sustentabilidade e o desenvolvimento do setor florestal no Brasil.

 

Marcílio Caron Neto não era apenas um engenheiro florestal e administrador de empresas; ele era uma força motriz por trás de algumas das maiores conquistas legislativas do setor. Sua articulação em Brasília foi fundamental para a consolidação do Código Florestal e para a retirada da silvicultura da lista de atividades potencialmente poluidoras. Ele entendeu que proteger e promover a silvicultura não era apenas uma questão de política, mas de futuro.

 

A história de Marcílio está intrinsecamente ligada à do próprio setor. Em 1966, o Brasil enfrentava um déficit na balança comercial devido à importação de papel. Foi então que a lei nº 5.106 foi publicada, criando incentivos fiscais para empreendimentos florestais e iniciando a introdução de eucalipto e pinus no país. Marcílio, com sua visão e liderança, participou dessa transformação, garantindo que o Brasil se tornasse uma potência em florestas plantadas.

 

Sua colaboração para com a Embrapa foi incomensurável tendo como ponto máximo o fato de ter sido, juntamente, com o colega embrapiano Edson Tadeu Iede e equipe um dos mais importantes responsáveis pelo sucesso nacional e internacional do Programa de Controle do inseto Sirex noctilio (vespa da madeira), praga que ataca exclusivamente plantações de pinus. Também esteve sempre prestigiando o esforço da Embrapa Florestas nas ações do Inventário Florestal Nacional.

 

Sua trajetória de liderança é impressionante. Presidiu a Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR) de 1984 a 1994 e novamente de 2000 a 2002. Além disso, participou ativamente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), foi um dos fundadores da Associação Sul Brasileira de Empresas Florestais (ASBR) e Coordenador geral do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente para o Sul do País.

 

O compromisso de Marcílio com a sustentabilidade e a conformidade ambiental também se destacou. Ele sempre defendeu a importância das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e das Reservas Legais (RLs), garantindo que os empreendimentos florestais estivessem em conformidade com as rigorosas normas ambientais. Ele acreditava firmemente que a silvicultura deveria ser uma atividade ambientalmente correta, e trabalhou incansavelmente para que assim fosse, tendo feito, por continuadas vezes a interlocução do Projeto Biomas coordenado pela Embrapa Florestas, junto ao Setor de Base Florestal.

 

Hoje, ao lamentarmos sua perda, refletimos sobre o imenso legado que ele deixa. Marcílio Caron Neto foi mais do que um líder; ele foi um visionário que viu nas florestas plantadas não apenas uma fonte de riqueza econômica, mas um pilar essencial para a sustentabilidade ambiental. Sua vida e seu trabalho tocaram muitos e continuarão a inspirar futuras gerações.

 

Neste momento de tristeza, celebramos a vida de um homem que dedicou sua existência ao serviço das florestas. Seu trabalho incansável, sua liderança inspiradora e seu compromisso com o meio ambiente permanecerão como um farol para todos nós. Obrigado, Marcílio Caron Neto, por tudo o que fez. Seu legado é eterno, e a floresta que você ajudou a cultivar continuará a crescer e prosperar, como um testemunho vivo de sua visão e dedicação.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE),Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura), Doutor em Agronomia (ESALQ/USP), Pesquisador em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado), Consultor Agroflorestal da Medrado e Consultores Agroflorestais Associados Ltda.(MCA)