Outro dia, em um café costumeiro com uma amiga, conversávamos sobre a rotina e a famosa perda do “olhar da primeira vez”. Comentávamos que, muitas vezes, é uma doença que faz alguém procurar esse olhar perdido, tentando reviver cada dia como se fosse o último.
Como seria nosso olhar se soubéssemos que morreríamos amanhã?
Quando cheguei nos EUA, vivi a fase do “uau!”. Você já passou por isso? Aquela sensação de ver as coisas de uma nova maneira, como se tudo fosse fresquinho e cheio de possibilidades? Era uma energia tão boa, um encantamento com o novo. Pensando sobre isso, imaginei engarrafar aqueles momentos em pequenos frascos coloridos. Cada vez que quisesse revivê-los, seria só abrir um deles e, como o gênio da lâmpada... poof! Lá estaria o momento, novinho em folha. Mas a questão é: será que eu teria o mesmo olhar de primeira vez para cada um deles? É tão difícil resgatar esse olhar? O olhar cotidiano é como aquele vaso de flores na sala, que está lá há tanto tempo que se torna invisível.
Esse desejo de redescobrir o olhar também aparece quando perdemos um ente querido. A mente revira a última conversa, os gestos não feitos, e nos sentimos sempre em falta. Passamos a lembrar dos momentos mais banais aos significativos, a dor das palavras nao ditas. Sera que aquela pessoa nao se tornou tambem invisível com o tempo? Como o vaso da sala?
Recentemente, alguém na mídia expressou sua dor pela perda de um ente querido, dizendo: “Sempre que morre uma pessoa querida, eu revivo aquele sentimento do meu olhar de primeira vez que tive quando a vi.” Achei isso tão bonito.
Voce ja se perguntou quantas coisas se tornaram invisíveis aos seus olhos? Onde está o nosso poder de recriar momentos? Às vezes, é preciso apertar aquele botãozinho de “start” dentro de nós e talvez procurar o extraordinário no ordinário.
Cheers!