DOSTOIÉVSKY X TOLSTÓI – TRES

O ano de 1974 estava perto do fim, nas rádios o sucesso da música Gita de Raul Seixas era incontestável, o “governo militar” trocava de presidente (o termo “governo militar” está errado, o certo seria dizer “governo dos oficiais das forças armada”, você nunca vai ver um soldado, cabo ou sargento governando um país, se os oficiais maltratam seus subordinados, então, é bastante natural que façam o mesmo com a país que governam), o incêndio do edifício Joelma deixou o Brasil em choque...

Meu pai morava no bairro de São Cristóvão na rua Bela, e trabalhava de segurança (Leão de chácara) no forró do Moraes que ficava na Avenida Brasil em frente ao cemitério do Caju.

Minha mãe tinha 16 anos e morava na Favela da Maré desde a infância com minha avó, meu tio, uma sobrinha e um filho para criar, sua primeira filha morreu de sarampo.

No dia primeiro de novembro (dia de todos os santos) aniversário de 30 anos do meu pai, eles se conheceram nesse forró, minha mãe tinha ido com uma amiga (inclusive meu pai já tinha ficado com a amiga dela), não dá para romantizar muito a cena, primeiro encontro de duas pessoas sempre é caótico.

Eles só ficaram juntos no outro fim de semana, depois da primeira noite meu pai acordou e viu que algo de errado não estava certo, tinha alguma coisa pendurada na cabeceira da cama, era uma peruca, minha mãe não tinha os cabelos lisos, eram encaracolados como o de todos os filhos que tiveram, “sempre somos tapeados logo de cara”, e depois daquela noite ela nunca mais foi embora...

Meu pai sempre andava armado, teve uma briga no forró e todos foram para a delegacia, as mulheres não eram revistadas, meu pai deixou o revólver com minha mãe, ela morria de medo daquilo disparar acidentalmente.

“Uai! Seu pai tinha trinta anos e sua mãe dezesseis? Seu pai era pedófilo?” Não! Antes para reparar o erro, quando uma moça perdia a virgindade era obrigada a se casar, caso o cara não fugisse, sendo assim a mulher ficava maior de idade e emancipada. Meu pai passou pelo mesmo caso nos anos 60, foi preso porque tirou a virgindade de uma garota, casou na cadeia, e disse: pode me obrigar a casar, mas, não pode me obrigar a viver com ela.

Os dois eram casados quando se conheceram e não podiam se casar, não existia divorcio no país, e nunca se casaram, viveram mais de trinta anos juntos, criaram quatro filhos e quando a morte levou minha mãe eles se separaram.

Só li Crime e Castigo e Memórias do Subsolo do Dostoiévsy e A Morte do Ivan Ilitch do Toltói. Dos três Crime e Castigo é meu favorito.

Telly S M
Enviado por Telly S M em 30/06/2024
Código do texto: T8096794
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