PÁLIDO HORIZONTE.
No pálido horizonte carregado de nuvens, estende um fim de tarde melancólico, o ar frio revela a presença do inverno. Algumas aves pousam nas copas das árvores, enquanto outras se enfileiram nos fios de energia, sempre contemplativas e silenciosas. A rua repleta de carros devidamente estacionados revela pais apressados em buscar os filhos na creche que fica de frente de casa, que por sinal, faz-se barulhenta como todos os dias. Crianças alegres, brincalhonas, gritando e correndo, até que, repentinamente, tudo é silêncio. Chegou o momento de retornarem para os seus lares. Cada pai, mãe, avós, saem de seus veículos e seguem rumo ao portão da creche, a essa altura já aberto, literalmente o local é invadido, pais apressados, crianças correndo rumo ao abraço, é apenas mais um final de tarde.
Estou na última semana de férias, e para falar a verdade não sei bem o que lhes dizer. Eu deveria de lhes confidenciar minha alegria em ficar em casa nesses trinta e poucos dias, em ter aproveitado ao máximo o período de descanso, no entanto, sou tomado de um sentimento estranho, uma tristeza profunda tombado como nuvens de tempestade em minha alma. Talvez as minhas expectativas quanto às férias estejam frustradas por aspectos que não devo comentar aqui nesse texto. Contudo, houve sim momentos bons, de descanso e silêncio, de profunda reflexão. Acredito que a idade esteja influenciando para tais sentimentos e até atitudes.
Aproveitei o tempo para ler e escrever. Entre os livros que estou lendo no momento, ( O médico de homens e de almas, da escritora Taylor Caldwell ) revelou-se surpreendente. Livro esse que guardo faz anos, um calhamaço de 700 páginas que estava parado na estante. Quantas não foram as vezes que ensaiei lê-lo, mas, não sei o motivo de nunca ter engrenado na tarefa. O último calhamaço que li foi ( A revolta de atlas ), outra pérola, depois me concentrei em títulos e volumes menores, igualmente surpreendentes. A leitura está sendo uma terapia maravilhosa, em muito me ajuda a desvencilhar dos devaneios e quimeras que me atormentam todos os dias.
Tenho plena consciência de que na próxima semana tudo mudará novamente, a rotina maçante retornará com toda força, impondo o seu cruel jugo. Falando assim parece um suplício quase insuportável, portanto, peço perdão pelo exagero nas palavras. Existe certa beleza em tudo isso, nessa vivência tão intensa e cheia de altos e baixos. Tenho plena consciência de que sou mais um na fila do pão como dizem por aí. Não tenho nada mais a dizer, na verdade, até teria, porém, o bom senso não me permite falar tanto quanto gostaria. Assim como tantos outros escritores, faço uso dos lábios dos personagens para dizer o que na realidade não posso. Por isso concordo com Antônio Prata, notório cronista de nossos tempos, que disse em certa entrevista: "A escrita é a arte dos covardes, que dizem depois o que não conseguem falar no momento". Com essa frase encerro a crônica, na falsa esperança de que tudo será diferente. Todavia, continuarei atuante na "arte dos covardes", também existe certa beleza nela.