A força de um desejo
Logo cedo, Vincent põe-se de pé, para fazer a refeição do dia, antes que parta para a floresta, afim de lenhar. Sua casa é bem simples, todavia aconchegante. O local é um destes lares em que a paz realmente reina.
Apesar da vida simples, mantem a esperança de que um milagre aconteça. Sua esposa sempre está a reclamar de que tudo na casa está faltando.
- Não tem nada nesta casa, falta leite, falta carnes e frutas! Indagava sempre, com ar de descontentamento e desaprovação.
Vincent ainda tentava contornar as falas da mulher.
- Temos que ter fé que as coisas vão melhorar.
Mas nada adiantava. A mulher trincava-se de cólera, uma espécie de irá dada a quem tem ambição pôr coisas luxuosas e vida boa.
O lenhador a deixou desdenhando sozinha e saiu. Foi em direção a floresta, como de habitual colher gravetos e lenhar. No caminho, observou que o dia parecia incomum. As arvores estavam mais verdes e os pássaros pareciam cantarolar em uma sincronicidade que mais soavam como sons angelicais.
Foi então que algo chamou sua atenção. Em um lado pouco explorado da floresta, uma grande arvore parecia o convidar a se aproximar. A árvore era vistosa, troncos largos, folhas verdes e raízes que pareciam braços acolhidos pela terra.
O homem se aproximou, admirado-a.
- Essa arvore irá me render muitos troncos para fazer lenha. Com a venda poderei comprar alimento e algumas outras coisas que faltam em casa. Suzana irá ficar contente! Refletia, com um sorriso de ponta a ponta.
Ao aproximar o machado da arvore, bem antes que pudesse fazer o primeiro corte, um pássaro formoso saltou entre as folhas, e o surpreendeu.
-Está arvore não pode ser cortada, meu senhor!
Vincent assustou-se com tamanha surpresa. Nunca na vida imaginou que animais pudessem falar, nem que estaria escultando um pássaro o impedir de lenhar.
O pássaro novamente bradou:
- Está arvore não pode ser cortada, meu senhor, ela é o centro de tudo que existe neste mundo, é a arvore mãe, a conexão do mundo humano com o mundo encantado!
O homem olhou para os lados, tentando entender se aquilo não se tratava de uma peça pregada por algum ancião das redondezas ou por algum camponês que volta e meia cercavam os viajantes afim de pregar-lhes pegadinhas e roubar suas coisas.
Conformado de que aquilo era a vida real, Vincent tentou convencer o pássaro de que aquele era seu oficio, a única forma de manter a casa e ter o que comer.
O pássaro insistiu que ele não tentasse. Em troca ofereceu-lhe um grande ovo dourado, o qual poderia realizar dois desejos do seu coração. Mas que, deveria alerta-lo de que o segundo pedido sempre tem consequências.
Satisfeito, o lenhador concordou imediatamente e voltou para casa com a novidade.
Chegando em casa, abraçou a mulher que visivelmente ainda estava amargurada da triste vida.
Sem pensar duas vezes, exibiu o ovo de ouro sobre a mesa.
Nesse instante, o brilho emanado pelo ovo misturou-se com a fraca luz do dia, num clarão que invadia toda a casa.
A mulher imediatamente franziu os olhos, como que quisesse externar surpresa com tamanho avistamento.
- Veja isto minha querida, está é a salvação de nossas vidas. Acrescentou o lenhador.
Imediatamente a mulher pós as mãos no objeto de ouro, tentando decifra-lo.
- Como que come isto? Parece não querer quebrar, duro feito pedra. Exclamou!
O lenhador tomado de gargalhadas tentou explicar a mulher que aquilo não era de comer, mas um ovo encantado dado por um pássaro falante enquanto estivera na floresta.
Rapidamente os olhos da mulher encheram-se de um brilho e uma sensação de alivio transpareceu por toda a face. Finalmente sairiam da miséria, teriam roupas bonitas, uma casa descente e dinheiro para o resto de suas vidas, sonhava, ainda que de olhos abertos.
Não perca tempo! Exclamou em alto tom ao marido. Faça o primeiro pedido.
Vincent pegou o ovo de ouro e com uma força abrupta, seguro-o e desejou com todas as forças que não faltasse alimento na mesa daquele momento em diante.
De repente, um vento frio adentrou pelas janelas, correndo em direção a sala de refeições.
Um estralo pôde ser ouvido pelo casal que, correram imediatamente para ver o que tinha acontecido.
Tamanha foi a surpresa, as dispensas estavam lotadas de comidas, que mal dava para contar. Eram especiarias, queijos, carnes, frutas e variadas opções de pães e potes de mel.
A mulher imediatamente correu para deleitar-se de uma boa refeição. Parecia que, quanto mais comia mais comida surgia sobre a mesa e pela dispensa.
- Inacreditável querida, é realmente um milagre, agora estamos ricos! Gritava o homem com uma alegria incontrolável.
E dançaram sem parar, enquanto bem distante, no cantinho da sala o ovo dourado reluzia ainda mais, como que um refletor de luz.
Dado alguns segundos, a mulher resolveu que faria o segundo pedido. Certamente teria mais jeito para desejar, talvez deseje um castelo repleto de luxo e de ouro ou quem sabe, roupas novas.
Refletiu enquanto segurava o objeto magico nas mãos.
O marido ainda tentou convence-la de que o melhor seria não desejar mais nada aquela noite. Sentia que, aquilo era algo fora do normal, apesar de que resolveu o problema de sua fome.
Teimosa e incontrolável, a mulher teve uma ideia macabra. Refletiu que, com o este será o último pedido, não poderia escolher qualquer coisa. Teria de ser algo que durasse para sempre, pois sabia que se fizesse o pedido de qualquer maneira, o ovo concederia e desapareceria para sempre.
Foi então que pensou e no ato de coragem bradou em alta voz para que o ovo lhe concedesse dois desejos eternos, todos os dias, sem falhar.
O marido achou a ideia maluca, mas pensou grande também e se imaginou sendo um dos homens mais poderosos de toda a província. Deixaria de mão o titulo de lenhador e tornar-se-ia um rei, o maior de todos.
Enquanto isso, o ovo brilhou novamente, dando a entender que o pedido foi aceito.
Satisfeitos e alegres, o casal foi para a cama repousar, enquanto conversavam em alta voz mil e um planos do que desejariam dia após dia. Apagaram a luz e dormiram.
Enquanto isso, na sala, o ovo dourado brilhou novamente com tamanha intensidade que se rachou de meio a meia, evidenciando um lindo pássaro de ouro, formoso e brilhante.
No mesmo instante, uma brisa bateu-se contra as janelas as abrindo e se direcionando em direção aos aposentos do casal.
Um barulho pode ser ouvido, igual o que fora escultado durante o primeiro pedido.
Foi ai que o pássaro voou em direção ao quarto e encontrando sobre a cama dois lindos ovos de ouro, quentes e brilhantes.
Segurando-os um em cada garra, saiu pela janela novamente os levando para a grande arvore a qual mais cedo o lenhador havia avistado. No dia seguinte, pela mesma estrada, um simples camponês passeava quando avistou a arvore e um pássaro falante que imediatamente deu-lhe ovos mágicos e o poder de dois pedidos.
O camponês, assim como o lenhador, foi correndo para casa, afim de compartilhar a descoberta com a companheira.
O ciclo se repetia.
Apenas faça dois pedido!