Em 1969, ano que o Neil Armstrong caminhou na superfície da Lua, passei a cursar o ginásio em escola pública, as turmas que entraram naquele ano encontraram as turmas da segunda série, as primeiras do diurno, assim a maioria dos alunos estavam entre 11 e 13 anos de idade, crianças e também os recém chegados à adolescência. alguns já despontavam na arte de torturarem travestidos de bullying.
Os torturadores não precisavam esperar muito tempo para identificar uma manifestação física, comportamental e até da posição social e sem trégua infernizavam a vida dos escolhidos. Eu por exemplo, pelo menos uma vez por dia levava cascudo nas orelhas ou era tido como Dumbo, aquele elefante orelhudo.
O José Luiz, um dos meus colegas de turma era bastante polido, por isto era adjetivado com chamamentos atribuídos a gays, então ele encolheu-se rapidamente. Algumas meninas perceberam e o cercavam para protegê-lo das maldades. Transcorridos os quatro anos de ginásio, nunca reparei ele participando de grupos de trabalho que tivessem meninos. Neste mesmo período nunca conversamos, era um cumprimento lacônico eventualmente!
Assim foi na Academia Militar, na faculdade e nas equipes de futebol.
Os anos passaram e pouco mudou, aliás, mudaram para pior, inclusive com mortes decorrentes da tortura física e da psicológica.
Me parece que somente agora é tomada uma atitude seria, pelo menos, para livrar as crianças e adolescentes da tortura relacionada a discriminação sexual, coisa que não houve com o José Luiz, mesmo que o ser humano estivesse chegando à Lua!
A decisão do Supremo Tribunal Federal de ontem determina que:
- "as redes de ensino pública e privada são obrigadas a tomar medidas para combater, no ambiente escolar, a discriminação de crianças e adolescentes por gênero e orientação sexual, por exemplo, o bullying machista e homotransfóbico".