Conheço muitas pessoas que têm pavor da solitude (chamam de solidão), que enlouquecem só de imaginar um dia apenas com elas mesmas. Que precisam de tumultos diários povoando a cabeça para distraí-las da criança que um dia foram em ciranda dentro do peito.
Conheço pessoas que não desgrudam mais dos seus celulares, não conseguem mais a paciência para ler um livro e vivem num estado de angústia constante.
Quando me isolo, consigo ouvir o diálogo da vida, as correntes de vento bagunçando tudo e criando a própria arquitetura, sem padrões ou regras, fluem, apenas. Derrubam paredes e desenham quintais distantes dos temporais de pessoas.
O pé na grama, o orvalho que se derrama sobre mim, o cheiro da umidade da terra, o pulsar do mundo em sementes plantadas no chão. Estou sempre me despedindo das multidões. Estou sempre de partida. Estou sempre à sombra para descobrir um novo modo de morrer celebrando a vida em seu renascimento. Sou um pássaro de asas tortas na placidez que tanto me absorve nos limiares onde pouso, lar.