O tira na cabeça e outras formas de repressão
Sextou! Para mim, quase indiferente, pois estou de férias desde o dia 13. Para outros, último dia de trabalho antes das férias de julho. Viagens, passeios e outras diversões à vista! Chamo pelo WhatsApp a Professora Doutora Joseilde Maria Teles, uma das minhas professoras da licenciatura em Letras, e passamos a conversar. Diz ela: “Sextou. E de férias! Agora terei mais tempo para o café e as crônicas. Estou precisando de tempo para ler. Tem uma fila de livros me esperando.” E, depois, comentando nós a correria cotidiana, que às vezes é mais acentuada na mente de uns do que na de outros, diz: “Quando me sento, penso: ‘O que eu estou me esquecendo de fazer?’” Interessante. Vivencio, de vez em quando, o mesmo sentimento. E pensei: “A deixa para uma crônica.”
Costumo dizer, brincando no dia a dia, ser um carinha que está sempre em boca. E é verdade. Estou sempre às voltas com algo para fazer. Sabe aquela sensação repressora do tira na cabeça o tempo todo de que falou Nicos Poulantzas? Pois é. O sentimento opressor de estar desperdiçando o tempo com isto ou aquilo, por ter algo diferente para fazer. Filas de obrigações me abarrotam a mente. Compromissos, às vezes, assumidos sem necessidade. Necessário ou não, compromisso, uma vez assumido, é compromisso. Vira obrigação.
Em relação à leitura, por exemplo, não se esgota a fila de livros para ler. Leio, às vezes, mais de um livro ao mesmo tempo. E com uma caneta de tinta vermelha à mão. Leio rabiscando, anotando. Virou hábito. Antes, pensava que ler vários livros ao mesmo tempo era errado, improdutivo, mas Gabriel Perissé, doutor em Filosofia da Educação, diz que não é. E, o que é mais interessante, ele escreveu isso no livro Ler, pensar e escrever. Passei, pois, a saber que não é errado nem improdutivo. Que bom!
Essa história do tira na cabeça, ou seja, da repressão internalizada, é interessante. Já vai bem longe o tempo em que estudei Nicos Poulantzas, 1997. Início do meu curso de Direito. Aula do Professor Júlio César Souza Costa. Poulantzas emprega a expressão referindo-se à repressão do Estado contra o indivíduo. Eu, contudo, considero que acontece em relação a quase tudo na vida. É a opressora sensação do dever para cumprir, da obrigação não sei de que nem para quê. Lembra-me, mutatis mutandis, a terrível expectação do juízo de que a Bíblia fala em Hebreus, capítulo 10, versículo 27.
Enfim, isso é doença? Não. São as preocupações da vida e o nosso jeito de arrostar o mundo. É como penso. E daí, se fosse? Alegra-me saber, aqui e acolá, que não estou sozinho nas minhas idiossincrasias. Ruy Castro, imortal da Academia Brasileira de Letras, lembra que Nelson Rodrigues sempre falava de si próprio nas próprias crônicas. Rubem Braga e Otto Lara Resende, nas deles, homenageavam seus amigos. Sempre gostei de fazer as duas coisas. Assim – como vê quem me lê –, estou muito bem acompanhado!