🔵 Pelé ou Maradona?
Por herança do meu pai, que viu o Rei jogar, ou conhecimento histórico, eu digo que o brasileiro foi o melhor. Entretanto, justamente na Copa do México, em 1986, eu era um moleque fanático por futebol, desses que têm um campinho de futebol no quintal; arrancam a tampa do dedão do pé no asfalto; na escola, na falta de bola chutam pedra, papel amassado e copo de plástico; e colecionam figurinhas das seleções. Foi com essa configuração que Dieguito se tornou Don Diego Armando Maradona ou, simplesmente, Maradona e acabou com a Copa.
A Copa do México tinha um forte apelo com as crianças. Um mascote legal e vendável (Pique); no Brasil, uma música contagiante, cantada por Gal Costa; e um garoto-propaganda bobo, mas com uma popularidade absurda (Arakem, o showman).
Enquanto isso, Maradona era democrático, deixava qualquer seleção de futebol para trás.
No tempo que os craques eram forjados nos campinhos, tentei fazer a minha parte. Ou seja, nunca fui craque, mas jogava no terrão, na rua e campinhos, nos quais era, digamos, esforçado. No quintal, a trave de madeira; na rua, o golzinho de pedras ou chinelos. O sangue pingando indicava que a partida tinha sido bem disputada. A inspiração no gênio argentino era um privilégio suficiente para fazer nascer um fominha de 11 anos.
Concomitantemente, lá no México, o “hermano” fazia milagres, inclusive gol de mão.
Entusiasmados com a Copa, os pirralhos enfeitavam a rua e faziam pinturas rupestres verde-amarelas, imbuídos do restinho de patriotismo que a Seleção Brasileira carregava. Nas figurinhas, antes da globalização e da internet, tentando pronunciar nomes de jogadores das mais variadas origens, falávamos um dialeto muito particular, algo incompreensível e muito próximo do que deve ser o esperanto.
Coincidentemente, hoje faz 38 anos daquela final do estádio Azteca entre Argentina e Alemanha. No jogo final da Copa do Mundo, Maradona fez mágica, driblou todo mundo, inclusive o nosso patriotismo sazonal e esse papo ufanista de pátria de chuteiras.