Dança a três
- Alô? - Atendi o telefone depois de correr alguns passos, pois recém havia entrado em casa quando ele começou a tocar.
- Achei que não ia me atender - Disse a voz dela parecendo um tanto estranha.
Bom, primeiramente é preciso constar que este fato se passa no tempo dos antigos Maias, quando o telefone ainda ficava preso por um fiozinho na parede como uma espécie de coleira, mas vamos lá.
- Não tenho bina para saber que é você e também não teria razões para não te atender, meu bem - Respondi calmamente.
Ok, lá vamos nós de novo, para as novas gerações. Os millennials… Falcons? Enterpriserianos ou sei lá o nome que usam atualmente… Talvez geração XYZ Ctrl C, sei lá, mas preciso esclarecer para nível de compreensão que bina não é nenhum apelido carinhoso para Sabrina e, sim, o apelido popular de um aparelho que se chamava identificador de chamadas, a única forma de pessoas com mais recursos saberem quem estava ligando.
- Não vem com esse papo de meu bem, seu idiota - Diz ela aumentando o tom de voz.
- Oi?
- Não se faz de louco, eu estava lá na festa sábado, eu vi tudo.
- Ainda não entendi - Insisti.
- Eu vi você ficando com aquela mulher lá perto da porta, seu cretino.
- E? - Continuei tentando entender.
- Como assim? Você acha que pode ficar com outra mulher?
- Posso? - Perguntei quase me questionando ao mesmo tempo
.
- E a gente?
- Paula… me escuta - Tentei argumentar.
- Vai vir com desculpa agora? vai dizer que ela te agarrou? - Me interrompeu ela ainda aos berros.
- Não, não é isso - Tentei falar novamente, mas em vão.
- Vai dizer que tá arrependido e vai pedir desculpas?
- Também não é isso.
- É o que então?
- Vai me deixar falar? - Perguntei após respirar fundo.
- Fala então!
- Paula, você tem namorado e o teu namorado não sou eu.
- Ele não tem nada a ver com isso, não foi ele que ficou com outra.
- Paula, eu sou o teu amante, eu não sou teu marido, noivo e nem teu namorado. Amante! Sabe o que amante significa?
- Óbvio que eu sei, seu idiota, não precisa falar assim comigo.
- E você não vai passar todos os finais de semana com teu namorado lá na casa dele depois de passar a semana quase toda vindo aqui?
- Sim!
- E você não fica e não faz coisas lá com o teu namorado no final de semana?
- Sim.
- Então você quer que eu seja o teu amante, mas que mesmo assim tenha um compromisso em que você fica comigo e com o seu namorado e eu não posso ficar com mais ninguém?
- Sim… é pedir muito?
Depois desse dia eu comprei uma bina.